Título: IBM desafia o Google com ferramenta de busca na web
Autor: Ricardo Cesar
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Empresas &, p. B3

Cebit Após dois anos em teste, sistema está pronto para ser lançado

Ao revolucionar a tecnologia de busca na web e adotar um bem-sucedido modelo de negócios em torno desse serviço, o Google tornou-se um fenômeno e viu seu valor de mercado sair de zero para mais de US$ 100 bilhões em apenas sete anos. Aparentemente, esta foi a parte fácil. O maior desafio vem agora: a empresa mostrou-se tão eficiente em encontrar concorrentes de peso quanto respostas para as pesquisas de seus usuários. Aos clássicos rivais Yahoo e Microsoft, a companhia está em vias de somar mais um: a IBM. Sob o codinome Marvel, a Big Blue desenvolve sem alarde desde agosto de 2004 um sistema de busca de informações em redes corporativas e na internet que segue um modelo tecnológico distinto ao do Google e promete mudar a forma como as pessoas procuram por conteúdo multimídia. Após quase dois anos de testes, o software está pronto para entrar na fase comercial ainda em 2006, afirma John Smith, gerente sênior da unidade de inteligência de administração de informações do Centro de Pesquisa T.J. Watson, o coração da estrutura mundial de pesquisa e desenvolvimento da IBM. Em um primeiro momento, o Marvel será usado apenas por empresas, que instalarão o sistema em suas redes corporativas para encontrar e organizar arquivos de áudio e vídeo. O produto já roda em caráter de teste em alguns clientes corporativos. Os nomes não são revelados, mas entre eles está uma das maiores companhias de mídia dos Estados Unidos que utiliza o Marvel para achar imagens - até mesmo de pessoas que apareceram apenas por uma fração de segundos durante uma filmagem - em meio a um gigantesco arquivo de vídeos. Uma rápida demonstração do software, contudo, deixa claro que não haveria dificuldades em liberar seu uso a qualquer pessoa pela web. Smith conta que há duas semanas ele e sua equipe de desenvolvedores mostraram pela primeira vez a versão quase acabada do Marvel ao executivo-chefe da IBM, Samuel Palmisano. Ao fim da apresentação, Palmisano teria ficado tão impressionado que perguntou se o Marvel pode transformar a IBM no próximo Google. Smith não tem dúvidas de que, ainda que se torne líder em tecnologias de busca, a Big Blue seria um Google muito diferente daquele criado por Sergey Brin e Larry Page, cujo modelo de negócios é inteiramente baseado na venda de publicidade - uma fórmula que a IBM descarta categoricamente. Mas nada impede que o Marvel seja um dos motores de sistemas de busca já existentes na internet que aceitem pagar ao seu desenvolvedor pelo uso da tecnologia. O funcionamento do Marvel segue uma lógica nova, explica Smith. O Google classifica as páginas da internet segundo palavras-chave indexadas a esses web sites que descrevem seus conteúdos. Os termos digitados nas buscas são relacionados a essas palavras, levando em consideração diversas variáveis complexas - como a quantidade de links em outros sites que remetem a um determinado endereço, por exemplo - para assegurar a exibição dos resultados mais relevantes. Mesmo quando busca fotos e desenhos, o Google procura por palavras ligadas a essas imagens. Um web site com o mapa do Brasil provavelmente trará os termos "mapa" e "Brasil", e o próprio arquivo da imagem pode estar nomeado dessa forma. Já o sistema da IBM vai além desse índice de palavras. Ao buscar, por exemplo, por "Pelé", o Marvel encontra fotos do ex-jogador de forma similar ao que outros sistemas fazem. Em um segundo momento, no entanto, o software "escaneia" a imagem e cria um modelo com base em suas características. Em seguida, faz uma nova busca que desconsidera palavras e é inteiramente baseada nas características visuais do modelo criado, que funciona como uma impressão digital. Da mesma forma, o sistema utiliza tecnologia de reconhecimento de voz para encontrar arquivos de áudio. Ao exibir uma música gravada por determinado cantor ou o pronunciamento de um político, o Marvel vasculha a internet ou a rede corporativa em busca do mesmo padrão de voz. Por hora, a prioridade da Big Blue é levar o software a empresas que lidam com grandes quantidades de arquivos de imagem e áudio, incluindo companhias de mídia, saúde e segurança. Mas o discurso contra o atual líder do mercado já está afiado. "O Google conseguiu uma vantagem na busca de textos na internet, mas nada leva a crer que esteja na mesma posição quando tratamos de multimídia", diz Smith. "Seu sucesso começa a ficar mais baseado na marca que ele criou do que no diferencial que a qualidade de sua tecnologia proporciona." Outros concorrentes também parecem considerar que a vantagem tecnológica do Google é menor em buscas de arquivos multimídia. Microsoft e Yahoo estão investindo pesado nesse tipo de pesquisa. Encontrar vídeo e áudio também é uma das principais apostas do Quaero, um projeto conjunto entre os governos da Alemanha e da França e empresas privadas dos dois países para desenvolver um sistema de buscas europeu.