Título: Europeus negociam contrapartidas com o governo
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, Empresas &, p. B3

TV digital

Em nova tentativa de reverter o favoritismo dos japoneses na corrida pela definição do sistema de TV digital no Brasil, a União Européia acenou ontem que deverá endossar a proposta de fabricantes do continente de instalar uma planta industrial para a produção de semicondutores no país. No entanto, a própria empresa que estuda o investimento, a franco-italiana ST Microelectronics, evita adotar o compromisso de construção da fábrica. A sinalização da UE veio por meio de carta encaminhada à ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Nela, o embaixador João Pacheco, chefe da delegação européia em Brasília, assume a "firme intenção da UE de contribuir para o objetivo-chave do governo brasileiro de fomentar a criação de uma indústria de semicondutores no Brasil". Segundo ele, "a Comissão Européia mantém-se atualmente em discussões com a indústria e os Estados-membros da UE" para a preparação de uma oferta - para a escolha do modelo de tecnologia europeu DVB - que "esperamos finalizar e entregar ao governo brasileiro na próxima semana". A carta diz que a oferta inclui investimentos do setor privado, financiamentos do Banco Europeu de Investimentos e dos países-membros da UE, apoio a parcerias em pesquisa e desenvolvimento e uma proposta na área de semicondutores. Boa parte dessa oferta já é conhecida e tem sido difícil identificar, nas barganhas sobre o padrão de TV digital a ser adotado no Brasil, o que pode realmente se tornar realidade. As discussões até agora têm demonstrado que quem assumir o compromisso definitivo de iniciar a produção de chips no país, com desenvolvimento local e não apenas a montagem de componentes, poderá ganhar finalmente a disputa pelo sistema digital. Os japoneses acenaram com a construção de uma fábrica local, mas dizem que não podem se comprometer a fazer isso sem um estudo extenso sobre as condições de competitividade no Brasil. A intenção do consórcio japonês responsável pelo padrão ISDB é instaurar um comitê de estudos para a eventual fabricação de chips e para o "adensamento da cadeia produtiva", com substituição de importação de componentes usados em televisores. Os europeus se esquivaram desse compromisso, em reunião ontem com quatro ministros, no Palácio do Planalto. O representante da ST Microelectronics no país, Ricardo Tortorella, se encontrou com os ministros Hélio Costa (Comunicações), Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Antônio Palocci (Fazenda), além da própria Dilma. Uma nova reunião foi marcada para hoje. De acordo com Tortorella, a empresa franco-italiana procurou saber que tipo de incentivo o governo brasileiro estaria disposto a oferecer. "O que acordamos agora foram os próximos passos para definir um plano de investimentos no Brasil", afirmou o executivo, ao fim do encontro. Tortorella ponderou, no entanto, que ainda não se tratou da construção de uma fábrica. "Ainda não estamos combinando a montagem de uma fábrica. Existe um estudo, que vai dizer se ela é viável ou não", disse o representante europeu. Segundo ele, a intenção é que isso seja uma contrapartida à escolha do padrão DVB, mas Tortorella afirmou que a possibilidade de produzir chips no país não morre com uma eventual escolha do sistema japonês.