Título: Maior crescimento dos últimos 37 anos
Autor: Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 25/05/2010, Economia, p. 14

Serasa Experian estima a expansão da economia brasileira em 11,7% em 2010, ritmo que só deve ser superado pelo de 1973

A cada semana, as instituições financeiras, consultorias e entidades de pesquisa refazem as contas e apresentam novas e ainda mais elevadas estimativas para o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, a soma de toda a riqueza gerada no país). Dessa vez, os dados da Serasa Experian indicam que a economia brasileira poderá registrar o maior crescimento dos últimos 37 anos. A empresa constatou uma variação de 2,8% do PIB de janeiro a março em relação ao trimestre imediatamente anterior, volume que, anualizado, sinaliza para 11,7%. Tal desempenho, caso venha a se confirmar, só seria superado pela expansão de 13,97% registrada em 1973, melhor ano do Brasil em mais de um século.

De acordo com a projeção da Serasa, o PIB cresceu 9,3% em março na comparação com o mesmo mês do ano passado, o maior ritmo da atividade econômica desde os 10,4% registrados em abril de 1995. Naquela ocasião, a economia brasileira vivia um período de superaquecimento por causa dos ganhos reais de renda que os trabalhadores tiveram com o fim da hiperinflação e com o cambio valorizado. Agora, a alta na atividade é explicada pelo aumento de 27,8% nos investimentos produtivos e de 11% no consumo das famílias. Também contribuiu o crescimento de 18,5% nas vendas de produtos no exterior.

No primeiro trimestre, segundo a Serasa, o crescimento anual foi de 8,2%, resultado que foi puxado pelo avanço de 14,6% do setor industrial, seguido pela alta de 6% nos serviços e de 4,2% na agropecuária. Nos 12 meses encerrados em março, o crescimento foi de 2,3%, ritmo bastante prejudicado pela crise internacional, que gerou uma recessão mundial no ano passado. No Brasil, que foi menos afetado do que países ricos com os Estados Unidos e os europeus, o PIB encolheu 0,2% em 2009.

Controvérsia Os analistas concordam que o PIB vai ter um aumento forte neste ano, mas as previsões ainda são divergentes quanto ao tamanho do crescimento. Ontem, a Prosper Corretora refez as contas e passou a projetar um aumento de 8,16% do PIB brasileiro em 2010 ante os 7,1% da estimativa anterior. Os números preliminares de indicadores do segundo trimestre apontam taxas elevadas e têm ficado acima das nossas expectativas, afirmou o economista-chefe da Prosper, Eduardo Velho.

Os demais bancos também se viram obrigados a elevar suas projeções. Os cerca de cem analistas ouvidos semanalmente pelo Banco Central (BC) elevou pela 10ª vez seguida a estimativa média para a expansão do PIB, que agora saltou de 6,30% para 6,46%. Os números foram divulgados ontem.

Embora as extrapolações sinalizem para um número espetacular em 2010, os economistas se adiantam em relativizar os indicadores. O governo vai ter que agir para atacar a alta dos preços, efeito colateral do superaquecimento, que pode ameaçar toda a economia. As projeções dos analistas ouvidos pelo BC para a inflação medida pelo Índice de Preço a Consumidor Amplo (IPCA) passaram de 5,54% para 5,67%. Essa é a 18ª vez que o mercado eleva as expectativas do indicador.

Com o aumento dos preços, o BC será obrigado a estragar a festa do crescimento. Deve aumentar a taxa básica de juros (Selic), o que vai encarecer os empréstimos e reduzir o dinheiro em circulação. Para Eduardo Velho, será acrescentado 0,75 ponto percentual na Selic em junho, com o mesmo aumento em julho. Sem a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que turbinou a venda de muitas mercadorias, o consumidor deve frear as compras, diminuindo a produção industrial. Por fim, até mesmo o corte dos gastos do governo vai contribuir para reduzir o nível de atividade.

Os números preliminares de indicadores do segundo trimestre apontam taxas elevadas e têm ficado acima das nossas expectativas

Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper

Confiança em baixa

A confiança dos industriais se retraiu levemente em maio, mas permanece acima da média histórica, sinalizando continuidade do crescimento econômico, afirmou ontem a Confederação Nacional da Indústria (CNI). O Índice de Confiança do Empresário Industrial (Icei) caiu de 66,9 pontos em abril para 66,3 pontos no mês passado. Foi a quarta queda seguida desde que se atingiu o pico de 68,7 pontos em janeiro. Ainda assim, segundo a entidade empresarial, o novo nível ainda está 7,2 pontos acima da média histórica do indicador (59,1).

Na avaliação dos economistas da CNI, o número indica que a economia continuará a crescer valores acima de 50 revelam otimismo dos empresários, enquanto números abaixo dessa marca demonstram pessimismo. O recuo agora foi considerada natural diante de uma certa euforia com a recuperação no fim do ano passado, movida a incentivos fiscais e monetários. O componente do Icei que sofreu a maior retração foi a avaliação atual da economia em relação aos seis meses anteriores. Ele caiu de 61,3 pontos para 60,5.

No elemento específico sobre a expectativa para os próximos seis meses, o indicador caiu de 69,7 pontos para 69,1. Dos 27 setores considerados, 12 apresentam confiança relativamente estável, com variação negativa ou positiva menor do que um ponto. Entre os segmentos que tiveram maior queda da confiança, superior a dois pontos, estão alimentos, couros, calçados e química. Dos 27 ramos ouvidos, apenas o refino de petróleo teve um índice abaixo da média histórica.

A maior queda ocorreu para as empresas de grande porte (de 69 pontos para 68,2), mas elas ainda registram o maior nível de confiança. O Icei foi apurado entre 30 de abril e 20 de maio a partir de entrevistas com 1.543 indústrias.

PROCURA POR PAPÉIS A procura doméstica por papéis manteve trajetória ascendente em abril. De acordo com dados preliminares da Associação Brasileira de Celulose e Papel (Bracelpa), as vendas locais totalizaram 435 mil toneladas no mês passado, numa alta de 12,8% em relação a igual período de 2009. Na comparação com março, o volume encolheu 0,6%. O melhor desempenho foi apurado no segmento de papel cartão, disputado por Klabin e Suzano Papel e Celulose, com crescimento de 40% frente a 2009, para 49 mil toneladas.

Segunda etapa

Gabriel Caprioli

A Receita Federal e a Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN) deram a partida na segunda fase do Refis da Crise programa de parcelamento para pessoas físicas e empresas em dívida com a União. Agora, durante o mês de junho, os contribuintes previamente aprovados pela Receita deverão escolher se querem refinanciar todos os débitos ou apenas parte deles.

Na primeira fase, no ano passado, os contribuintes foram chamados a se inscrever. O Refis da Crise serve para quitar dívidas atrasadas até 30 de novembro de 2008, incluindo parcelamentos feitos em programas anteriores (Refis, Paes e Paex).

Segundo o coordenador-geral de Arrecadação e Cobrança da Receita, Marcelo Lins, os contribuintes que foram aprovados no ano passado são obrigados a prestar as informações exigidas ou perdem a oportunidade. O processo deve ser realizado no site da Receita na internet (www.receita.fazenda.gov.br).

Quem não quiser parcelar a dívida inteira terá que comparecer a um posto de atendimento da Receita para informar quais as contas que deseja incluir. Mais de 561 mil contribuintes se inscreveram, dos quais 174.365 são pessoas físicas. O parcelamento pode ser feito em até 180 meses.