Título: Previdência mais barata
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 16/03/2006, EU &, p. D1
Planos com taxas de administração mais baixas lideram a captação dos fundos de aposentadoria privada no mercado
Os participantes da previdência privada têm procurado pagar taxas de administração cada vez menores para investir. No primeiro bimestre deste ano, 68% dos recursos investidos nos planos de renda fixa que captaram mais de R$ 30 milhões no período foram destinados a fundos com taxa de administração de até 1,5% ao ano, segundo o site Fortuna. Em 2002, investia-se em planos com taxa abaixo desse limite apenas 20% do volume e, no ano passado, esses planos eram destino de 49% dos recursos. Com a maior competição, os planos mais em conta têm sido sistematicamente mais procurados. Como os planos de previdência de renda fixa investem em carteiras de fundos similares entre si - na maioria das vezes recheadas de títulos públicos que pagam os juros básicos -, a diferença das taxas de administração interfere diretamente na rentabilidade final das aplicações e, por conseqüência, no valor da renda futura. "Os participantes estão notando isso cada vez mais", diz Felinto Coelho, consultor da Towers Perrin. Ele calcula que a variação de um ponto percentual na taxa de administração um plano de previdência para outro, para quem acumular recursos por 30 anos, poderá significar uma diferença de 20% no saldo final e na renda mensal na aposentadoria. "Entre um fundo de taxa 1,5% ao ano e outro de 3,5% ao ano, a diferença tenderá a superar 40%." Segundo o site Fortuna, a rentabilidade máxima de planos com taxa de 3,5% ao ano que mais captaram no primeiro bimestre foi de 2,47%. Enquanto isso, esses planos de taxa de 1,0% ao ano obtiveram rendimento máximo de 2,58%. Se mantidas essas rentabilidades pelo período de apenas um ano, a diferença de rendimento entre os dois planos já seria de 2,06 pontos percentuais. Quanto maior o período de aplicação, maior será essa distância entre os saldos. Outro fator que pode ter contribuído com o aumento da procura pelos planos de taxa menor é o esforço dos participantes em investir mais recursos na previdência privada, diz Juvêncio Braga, diretor da Caixa Vida e Previdência. Esses custos variam conforme o valor aplicado pelo participante. Quanto mais alto, menor será a taxa cobrada, explica. Portanto, na medida em que se aplica mais, taxas menores são obtidas. Ele destaca, porém, que isso não tem a ver, necessariamente, com a renda do participante. O valor maior aplicado pode ser justificado pela transferência de outros investimentos para a previdência, diz. Os investidores de alta renda, porém, passaram a ter mais incentivos para investir na previdência privada com a criação da tabela de imposto de renda regressiva, diz D'Agosto, do Fortuna. "Eles podem investir visando um horizonte de prazo mais longo, em que a tributação é menor do que a dos fundos tradicionais." Na maioria das vezes, são esses clientes que conseguem acesso a taxas menores, diz ele. É cada vez mais freqüente encontrar investidores pesquisando taxas antes de aplicar, diz Marcelo Gerbassi, gestor da Icatu Hartford. Isso já ocorreu entre os fundos de previdência institucionais e agora leva à tendência de queda das taxas que acompanha a expansão do mercado aberto, diz. "A possibilidade de se portar recursos sem altos custos entre diferentes planos de diferentes seguradoras estimula essa queda das taxas." Conforme a instituição, é possível transferir o saldo dos planos de previdência para outra seguradora bancando apenas o custo de 0,38% da CPMF. O investidor deve estar atento, ainda à cobrança de outro encargo chamado taxa de carregamento pelas seguradoras que oferecem previdência. Ela incide sobre o valor dos depósitos e costuma ser maior que a taxa de administração. Porém, o impacto dessa taxa sobre o valor investido, no longo prazo, é menor do que o custo da administração financeira. Ou seja, num cenário de rendimento anual de 10%, uma aplicação de R$ 1 mil em plano com taxa de carregamento de 10% e administração de 1% ao ano em 30 anos se tornaria R$ 11,940 mil. O mesmo valor, em idênticos período e cenário, num plano com carregamento de 5% e taxa de administração de 2% ao ano, chegaria a R$ 9,559 mil. O site Fortuna identificou também que a captação líquida dos planos de previdência no primeiro bimestre desse ano, de R$ 1.019 milhões, superou em quase 50% o volume investido no mesmo período de 2005, que ficou em R$ 686 milhões. Para D'Agosto, do Fortuna, a crise que abalou o mercado no ano passado, com as novas regras tributárias, parece não mais preocupar os investidores. Porém, o volume aplicado nos planos de previdência no primeiro bimestre ainda ficou aquém do saldo verificado no mesmo período em 2004, quando foram investidos R$ 1.709 milhões em previdência privada. A principal mudança lembrada pelos especialistas que teria reduzido esse valor é a nova regra que tributa na fonte os saques, eliminando a brecha para investidores eventualmente "esquecerem" de pagar o imposto. Para Gerbassi, do Icatu Hartford, apesar de não ter atingido o mesmo volume de 2004, a captação do setor volta a acelerar e, em 2007, certamente serão notadas aplicações maiores, se não houver novas surpresas até lá.