Título: Venda da indústria indica estoque baixo
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Brasil, p. A3

Conjuntura CNI apura crescimento de 4,42% no faturamento em janeiro, mês no qual a produção recuou 1,3%

O ano começou com vendas fortes na indústria. No entanto, como a produção do setor veio em queda, um movimento de ajuste de estoques deve ter ocorrido, o que reforça a expectativa de crescimento da produção industrial nos próximos meses. Em janeiro, de acordo com os dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI), as vendas reais avançaram 4,42% em relação a dezembro do ano passado. Ao mesmo tempo, as horas trabalhadas na produção recuaram 0,9%. Os números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também indicaram queda de 1,3% na produção da indústria - sempre na comparação feita após o ajuste sazonal, que retira efeitos típicos do mês em análise e o torna comparável aos demais meses. As vendas da indústria estão em alta desde novembro de 2005. No acumulado destes três meses, o faturamento do setor cresceu 7,1%. Em relação a janeiro, as vendas industriais foram 4,92% maiores, ritmo 0,19 ponto superior ao alcançado em dezembro do ano passado. Esse movimento de vendas mais fortes ainda não trouxe reflexos para o emprego industrial. A pesquisa da CNI indicou uma acomodação (queda de 0,11%) no pessoal empregado entre janeiro e dezembro. Para o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sergio Gomes de Almeida, a partir do segundo semestre do ano passado houve um descompasso entre o varejo e a indústria. "Em dezembro, como em outros meses, a indústria parece ter errado a mão e produzido muito. Agora em janeiro houve novamente desova de estoques", diz. Gomes de Almeida ressalta que como em dezembro se produziu muito e em janeiro pouco, a média entre os dois meses fica em torno de 0,5% a 1% de alta. Paulo Gonzaga, economista pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que após o fraco resultado do primeiro mês do ano, espera recuperação da produção em dezembro. "Não vi nenhum empresário falar que está com estoque excessivo", afirma. Ele aposta na tendência de um crescimento sustentado daqui para frente, após meses de volatilidade. A análise de Carlos Thadeu Gomes Filho, economista da UFRJ, contudo, vai de encontro a dos demais economistas. Ele acredita que como o brasileiro já se endividou bastante, a demanda está desaquecida e, por isso, a produção industrial não cresceu neste começo de ano. "A recuperação virá a passos muito lentos, porque o consumo não cresce como se esperava", diz. A CNI também apurou que o nível de utilização da capacidade instalada ficou em 80,4% em janeiro, menor do que os percentuais verificados em dezembro e janeiro de 2005: 80,6% e 82,7%, respectivamente. Com isso, há espaço para a produção crescer sem pressionar a inflação, conclui Flávio Serrano, economista da Ágora Sênior. "Assim abre-se espaço também para cortes maiores nos juros", avalia.