Título: Indústria européia quer nova oferta agrícola
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Brasil, p. A4

A Unice, associação das indústrias européias, anunciou que vai redobrar a pressão sobre a União Européia e os 25 governos nacionais para apresentarem uma oferta agrícola "mais ambiciosa" na Rodada Doha. A entidade reconhece que só assim poderá obter acesso real para bens industriais em mercados emergentes como Brasil e Índia. A pressão adicional vem pouco depois de o presidente da Unice, o francês Ernest Antoine Selliere, ter escrito uma carta de advertência ao comissário europeu de comércio, Peter Mandelson. "Não aceitamos uma abordagem desequilibrada que favoreça a agricultura em detrimento dos setores industrial e de serviços, que sustentam a grande maioria dos empregos e são responsáveis por quase toda atividade econômica e crescimento na UE", escreveu o empresário, que é conhecido por sua longa amizade com o presidente Jacques Chirac, um dos líderes do protecionismo agrícola na Europa. Associações industriais dos Estados Unidos, UE, Japão, Coréia do Sul, Taiwan, Canadá, Nova Zelândia e Brasil se reuniram durante dois dias na Organização Mundial do Comércio (OMC) discutindo a negociação global e consideraram a situação grave. A Fiesp, representando a indústria brasileira, não assinou o comunicado final que reivindica "ganhos significativos em acesso real de mercados para bens industriais, serviços, e facilitação de comércio''. A mensagem da Fiesp foi de que um corte de 50% nas tarifas consolidadas é o limite que a indústria brasileira pode aceitar. E isso condicionado a poder designar 10% do comércio como sensível (com redução tarifária menor que os outros) e ampla abertura agrícola nos países industrializados. Pelos cálculos brasileiros, os 10% de produtos sensíveis significam que 880 linhas tarifárias teriam corte menor. Mas a Fiesp já recebeu pedidos para pôr 1.700 produtos na lista e vários setores ainda não se manifestaram, conta Carlos Cavalcanti, diretor da entidade. Segundo negociadores brasileiros, o corte tarifário de 50% teria efeito sobre 30% das importações. Mas a Associação de Manufaturas dos EUA (NAM, em inglês) e a Unice acham que assim não há estimulo para oferta agrícola maior.