Título: Ford propõe acordo automotivo das Américas
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Brasil, p. A4

A Ford está sondando governos sobre a possibilidade de negociação de um acordo automotivo das Américas, revelou ontem o vice-presidente de assuntos governamentais internacionais da companhia, Stephen Biegun. A companhia considera a iniciativa importante diante do persistente bloqueio da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "Como não se tem a menor idéia de quando essa negociação pode ser retomada, o pacto automotivo poderia antecipar a liberalização de uma grande parte do setor industrial", disse Biegun ao Valor. A Ford já levou a questão ao governo americano e a alguns governos da região e Biegun aproveitou encontros de industriais com diplomatas na Organização Mundial do Comércio (OMC) para testar a proposta. Alguns negociadores responderam que isso podia ocorrer mais facilmente no âmbito da própria Alca e não fora dela. A idéia da Ford, porém, é de se negociar um acordo envolvendo o comércio de carros e autopeças que conduza à eliminação tarifária nos moldes do feito entre os Estados Unidos e Canadá há duas décadas. "Isso depois pavimentou o terreno para se chegar ao Nafta (o acordo de livre comércio que inclui também o México)", disse o executivo da Ford. Biegun insistiu que o objetivo é reforçar a competitividade da industria automotiva na região diante inclusive de novos competidores potenciais, como a China. A iniciativa da Ford é revelada na véspera de uma nova rodada de negociações entre Mercosul e União Européia, onde um dos temas é justamente um acordo automotivo birregional, que daria preferência à importação de carros europeus. Representantes da Anfavea, a associação da industria automotiva brasileira, estiveram em Genebra participando de reuniões com outras entidades do setor, mas a mensagem não foi liberalização e sim proteção. A Anfavea admite, em todo caso, que a eliminação de tarifas é uma questão de tempo, por isso martela agora a importância de as negociações na OMC abolirem também uma série de medidas não tarifárias (padrões técnicos, exigências de investimentos e distribuição etc) que vão se tornar o real problema do comércio.