Título: Lula comanda operação para manter Palocci
Autor: Cristiano Romero e Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Política, p. A5

Crise Presidente decide enfrentar oposição, diz a jornalistas que ministro fica e desmente pedido de demissão

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu bancar a permanência de Antonio Palocci no Ministério da Fazenda e enfrentar a oposição, que ontem pediu a demissão do ministro. Convencido de que os partidos da oposição resolveram atacar Palocci para, na verdade, atingi-lo, Lula decidiu, na quarta-feira, reagir à crise envolvendo o ministro. Em clima, segundo um assessor, de "assembléia permanente", o presidente está comandando pessoalmente a operação de salvamento de Palocci. "Saí hoje (ontem) do Palácio do Planalto convencido de que a posição do presidente é a de confiança total no ministro", disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). No início da noite, surgiram rumores de que Palocci teria entregue o cargo ao presidente. Tanto a assessoria da Presidência quanto a do Ministério da Fazenda negaram que isso tenha acontecido. No início da noite, ao chegar à sede da CNI, o presidente afirmou, depois de ser questionado por jornalistas, que o ministro permanecerá no cargo. "Palocci fica e não pediu demissão", disse. Partiu do presidente a decisão para que o senador Tião Viana, do PT do Acre, entrasse ontem com um mandado de segurança, no Supremo Tribunal Federal (STF), para suspender o depoimento do caseiro Francenildo dos Santos Costa à CPI dos Bingos. A medida foi idealizada pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, na noite de quarta-feira, durante reunião da coordenação política. Antes de se decidir pela ação judicial, o governo tentou fazer um acordo com senadores da oposição com o objetivo de evitar a convocação do caseiro para depor. Depois, negociou-se para que o depoimento ocorresse em sessão fechada da CPI. As duas tentativas de acordo fracassaram. Na noite de quarta-feira, o senador Tião Viana, o petista mais empenhado em defender Palocci na CPI dos Bingos, percebeu que a oposição não permitiria que a sessão com Francenildo fosse fechada. Num encontro no Palácio do Planalto, ele alertou o presidente, que decidiu, então, autorizar o recurso ao Supremo. Na manhã de ontem, Mercadante teria recebido a garantia de dois senadores da oposição - José Agripino Maia, líder do PFL, e Arthur Virgílio, líder do PSDB - de que a sessão da CPI com o caseiro seria fechada, o que acabou não acontecendo. "O Agripino e o Arthur me disseram que concordavam com isso", informou Mercadante. "Se a oposição está tão desgostosa com o Palocci, exigindo que ele saia do governo, que vença as eleições." Sem sucesso nas tentativas de acordo, o governo desistiu de tentar um novo entendimento com a oposição. "Ninguém mais confia que se cumpra a palavra no Senado", comentou um auxiliar do presidente. "Percebemos, nos últimos três dias, que a oposição veio para matar", disse um outro assessor. A estratégia do governo é questionar a credibilidade da CPI dos Bingos, que já sofreu 17 ações no STF, tendo saído derrotada de todas elas. Em discurso na tribuna do Senado ontem, Mercadante alegou que a comissão estaria exorbitando dos fatos que a determinaram. A liminar obtida por Tião Viana no STF conflagrou a oposição e significou o rompimento definitivo de Palocci com alguns de seus integrantes. Um dos principais aliados de Palocci na oposição, o senador Arthur Virgílio abandonou o tom cauteloso com que sempre tratou as acusações contra o ministro. Ontem, ele subiu à tribuna para defender sua demissão. "Aquele que depende, para a sua sobrevivência, do silêncio imposto pela força a um caseiro de 24 anos, não é mais ministro. Não é mais ministro aquele que se cerca de tantas suspeitas e que a todo momento é desmentido por motorista, caseiro, reportagem de jornal e se refugia nas ligações com as oposições e com segmentos importantes da vida brasileira", afirmou. Para o tucano, as revelações feitas pelo caseiro tiraram de Palocci quaisquer condições de continuar no cargo. "O PSDB cobra a demissão de Palocci por entender que a economia está madura. E há condições de se encontrar alguém que seja capaz, como ele, de comandá-la", disse o líder, manifestando "profunda decepção" com os fatos envolvendo o ministro. "A situação chegou a um ponto insustentável." Já o senador Pedro Simon (PMDB-RS) defendeu que o ministro se licencie do cargo por 30 dias. "Afaste-se, ministro, e queira Deus que possa voltar em um mês, com a imagem limpa", disse o senador gaúcho. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), que também protegia Palocci no Senado, não pediu diretamente sua demissão, mas fez um discurso dizendo que este é "um governo de ladrões". Preocupado com os efeitos da crise vivida por Palocci, o presidente se aconselhou nos últimos dias com políticos experientes. Concluiu, segundo um desses interlocutores, que o "sucesso" do seu governo, refletido nas recentes pesquisas de opinião, vem da área econômica e que, por isso, a oposição decidiu atacar o ministro. "É para atingir o âmago de seu governo, que é a política econômica", disse um político ouvido por Lula. (Colaborou Paulo de Tarso Lyra)