Título: Lula vai à posse no STF para cumprimentar governador
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Especial, p. A14

A corrida eleitoral de 2006 começou ontem, na prática, durante a posse do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Enrique Ricardo Lewandowiski. A cerimônia marcou o primeiro encontro público do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, dois dias depois de este derrotar José Serra na disputa interna tucana. O encontro não estava prevista na agenda do presidente: Lula decidiu ir à posse no início da tarde e seguiu direto da Granja do Torto, onde almoçou com o presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, para o Supremo Tribunal Federal (STF). Alckmin já havia confirmado presença. O primeiro encontro entre os dois principais adversários de outubro foi marcado pela cordialidade. Lula chegou às 16h30, aparentando bom humor. Mais cedo, já havia provocado, em tom de brincadeira, os jornalistas, indagando de quem eles falariam bem ou mal hoje (ontem). No Supremo, Lula foi recepcionado pelo presidente Nelson Jobim. Alckmin chegou atrasado e sentou-se ao lado do governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz. Lula encontrou-o com um olhar, acenou para o tucano e teve o gesto retribuído. A cerimônia foi curta e, como reza o protocolo, sem discursos, além da fala rápida de Jobim, agradecendo a presença das autoridades. Encerrada a posse, uma longa fila de cumprimentos ao presidente Lula e ao novo ministro formou-se em um salão ao lado do plenário. Alckmin não entrou na fila, preferindo dar entrevistas na parte externa do prédio. Lula, impaciente, chamou um funcionário do cerimonial e pediu a que ele localizasse o presidenciável tucano. "Procure por ele, que eu quero cumprimentá-lo", teria dito. O responsável pelo cerimonial localizou Alckmin e chamou-o para falar com o presidente. O governador de São Paulo entrou no prédio, em sentido contrário ao da fila de cumprimentos e dirigiu-se ao presidente. Os dois se abraçaram, sorridentes, perante os fotógrafos. Alckmin deu um beijo discreto na primeira-dama, Marisa Letícia e esta retribuiu o afago, mandando um abraço para a primeira-dama de São Paulo, Lu Alckmin. "O presidente foi bastante amável, me deu os parabéns pela vitória. Mas não falamos de campanha", ressaltou o governador de São Paulo. "Tenho grande respeito pelo presidente Lula. Não vou fazer campanha anti-Lula e anti-PT. Vou fazer campanha pra frente, projeto Brasil de crescimento", disse Alckmin. Segundo o governador, "política se faz com civilidade, com respeito" e nem seria necessário um pacto de não-agressão, como indagou um jornalista sobre o encontro dele com Lula. "Nem precisa". Segundo o governador, a amizade entre Marisa e Lu Alckmin surgiu durante uma viagem presidencial à China, em 2004, da qual Alckmin fazia parte. Na posse de Lewandowski também estavam presentes o senador Tião Viana (PT-AC), que pediu uma liminar ao STF para suspender o depoimento do caseiro Francenildo Santos Costa, na CPI dos Bingos. Tião representou o Senado, do qual é vice-presidente. O petista deixou o local sem dar entrevistas. Aos 58 anos de idade, Lewandowski é bacharel em Ciências Políticas pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e também bacharel em Direito pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo. Natural do Rio de Janeiro, é ainda mestre e doutor pela Universidade de São Paulo (USP), além de mestre em Relações Internacionais pela Fletcher School of Law na Diplomacy, da Tufts University, administrada em cooperação com a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos. É professor titular de Teoria Geral do Estado da Faculdade de Direito da USP, onde ingressou por concurso público, além de advogado militante e consultor jurídico de empresas, além de desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo.