Título: Exportador ganha, mas operador alega perdas
Autor: Vanessa Jurgenfeld e Paulo Henrique de Sousa
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Empresas &, p. B1

Se os exportadores ganham, as empresas que vivem de oferecer serviços de transporte internacional perdem com a queda dos preços dos fretes marítimos. A Aliança Hamburg Süd vinha crescendo cerca de 15% ao ano, em volumes. Neste ano, espera um aumento modesto, de apenas 5%. "E olha lá. Se conseguirmos isso, estaremos felizes", comenta Julian Thomas, diretor-superintendente da empresa. Mas as perdas vão além dos armadores. Empresas de logística, como Wilson, Sons, também estão fadadas a um desempenho menor neste ano. "Junto com o dólar, isso está arrebentando nosso orçamento", admite o diretor da divisão de agência marítima da companhia, Christian von Lachmann. Grande parte da receita da Wilson, Sons é atrelada ao dólar, em forma de comissão sobre o preço do frete. Ele conta que houve um aumento considerável na oferta de fretes. Segundo Lachmann, houve crescimento de 60% nos espaços em navios que fazem rotas para o Oriente. Lachmann concorda com o diretor da Allink, André Gobersztejn, sobre as perspectivas de que os preços devem cair ainda mais ao longo deste e do próximo ano. "Leva um tempo até que a oferta seja absorvida", diz Lachmann. O total de novos navios lançados ao mar neste ano chega a 1.992. Só os estaleiros da Coréia do Sul, que respondem por 38% do mercado mundial, têm outros 980 em carteira. Ele lembra que todas as grandes companhias marítimas aumentaram a oferta nos últimos dois anos. Gigantes como Maersk e Hapag Lloyd estão construindo grandes navios de 6 mil e de 8 mil contêineres, respectivamente. Mas são navios que não vêm para o Brasil, por falta de condições dos portos. Para cá, vêm, no máximo, navios com capacidade de 4 mil contêineres - ainda assim só para alguns portos, como Santos (SP), Paranaguá (PR) e Rio Grande (RS), que têm calados de 12 metros. Os outros portos ficam com navios de 2,5 mil contêineres. Gobersztejn nota que o frete entre os países da América Latina caiu menos do que as outras rotas, porque há menos competição entre os armadores. Ele explica que os grandes e modernos navios ficam restritos às rotas mais lucrativas do hemisfério Norte. "Para cá vêm os navios sucateados." Isso porque, segundo o executivo, o comércio marítimo no hemisfério Sul é apenas uma pequena fração do em relação à outra parte do mundo. (PHS e VJ)