Título: Agências e anunciantes ignoram a terceira idade
Autor: Eliane Sobral
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Empresas &, p. B4

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Quem costuma associar homens e mulheres com mais de 60 anos à bailes da terceira idade ou a casas de bingo precisa se atualizar. Os dois passa-tempos até fazem parte do cotidiano de alguns deles, mas, segundo pesquisa realizada pela GfK Indicator esses consumidores gostam mesmo é de praticar atividades físicas, como caminhadas, e adoram viajar - saem em média três vezes por ano e ficam no mínimo dez dias fora de casa a cada novo passeio. Pessoas acima de 60 anos são responsáveis pela injeção mensal de R$ 12 bilhões na economia do país - ou R$ 150 bilhões por ano - e em 68% dos lares pesquisados pela Indicator, são os mais velhos que decidem as compras. Apesar do perfil atraente e do potencial de consumo, essa faixa da população tem sido negligenciada tanto pela propaganda quanto pelos anunciantes. "Esse assunto agora está na pauta, porque começa a haver uma maior conscientização da presença e da importância desse público", diz o gerente de projeto da GfK Indicatos, Ricardo Moura e Silva. Porém, agências e anunciantes estão longe de fazer uma comunicação apropriada aos mais velhos, na opinião do diretor de planejamento e atendimento da Agência1, Doly Ribeiro - ele próprio um pesquisador do tema terceira idade há pelo menos 15 anos. "As pesquisas de mercado param nos 45 anos e os criativos das agências de publicidade acham que o jovem de 25 anos é referencia para qualquer idade", diz Ribeiro. Para ilustrar seu raciocínio, o publicitário elencou alguns exemplos de setores que poderiam direcionar sua comunicação ao público com idade superior aos 60 anos, mas que hoje usam modelos de 18 anos para vender jóias, automóveis e equipamentos eletroeletrônicos - especialmente os mais caros, como TVs de tela plana. "Há muito espaço para o setor de turismo, para produtos financeiros, para a área de entretenimento, como espetáculos e também gastronomia", afirma. Nos Estados Unidos, diz Ribeiro, 80% do público com mais de 60 anos investe em viagens de lazer (ver quadro). "A maioria dos hospedes estrangeiros do Sheraton do Rio têm mais de 55 anos." Segundo Ribeiro, não é preciso abrir mão do público mais jovem para atrair o de mais idade. "É preciso avaliar caso a caso mas, de forma geral, pode-se adequar o produto ou serviço aos mais velhos. Especialmente no setor de turismo, com o desenho de pacotes diferenciados para essa faixa etária", diz ele acrescentando que também não se deve esquecer da internet na comunicação com a terceira idade. Hoje, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o público maior de 60 anos representa 10% da população brasileira e as projeções indicam em 2020 eles serão 26 milhões de pessoas. O publicitário Alex Periscinoto, sócio da consultoria SPGA, lembra que, embora a população acima dos 60 anos das classes A e B tenha hábitos de consumo e perfil cultural muito similares ao dos norte-americanos, a renda per capita ainda é um limitador. " E é bom não ignorar essa realidade". Moura, do GfK, Ribeiro e Periscinoto participaram ontem do Iº Fórum Consumidor Idoso, promovido ontem pela Associação Brasileira de Anunciante (ABA), na sede da entidade em São Paulo.