Título: Ganho de bancos faz "colchão" suficiente para cobrir perdas
Autor: Janes Rocha
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Finanças, p. C1

A combinação de taxas de juros altas, amplas margens de ganhos ("spread") e controle de custos deve manter elevada a rentabilidade dos bancos brasileiros, mesmo que daqui para frente haja uma certa deterioração das carteiras de crédito pelo aumento da inadimplência. A análise faz parte do relatório anual sobre sistema bancário da agência internacional de classificação de risco de crédito Moody's, divulgado ontem. Dados do Banco Central (BC), reproduzidos no relatório, mostram que a inadimplência dos empréstimos acima de 90 dias subiu de 2,5% em junho de 2005 para 4,2% em janeiro de 2006. Para Celina Vansetti Hutchins, vice-presidente da Moody's e autora do relatório, essa elevação é natural e tem a ver com ajuste depois de um forte crescimento das carteiras de crédito consignado, com a entrada de pessoas físicas que nunca antes tiveram acesso a empréstimos e agora podem estar sobreendividadas. Mas, segundo o relatório, a geração de receitas dos bancos com o negócio é capaz de cobrir com folga de 3,2 vezes qualquer perda em caso de não pagamento dos empréstimos. Uma simulação da capacidade dos bancos para suportar uma piora do "portfólio" de crédito feita pelos analistas da agência mostra que, com relação ao nível de empréstimos não pagos relatados nos balanços de junho de 2005, mesmo se a perda crescesse cinco vezes os bancos teriam capacidade para cobrir e ainda ficariam com lucro 40% acima das perdas. "É um colchão adequado" diz o relatório. Com crescimento médio de 20% ao ano nos últimos três anos, o crédito atingiu 31,1% do Produto Interno Bruto no fim de 2005. Isso tem levado os bancos a, gradualmente, aumentar seus negócios com a atividade-fim de uma instituição financeira, deslocando parte de seus ativos que antes eram aplicados exclusivamente em títulos públicos, analisa a Moody's. Mas, para Celina, os bancos brasileiros ainda têm muito espaço para crescer em crédito, principalmente em modalidades ainda pouco exploradas, como o financiamento imobiliário e de bens de consumo. A Moody's avalia 26 bancos no Brasil. Em 2005, a agência melhorou a classificação ("rating") do Itaú, Banco do Brasil, Votorantim, Unibanco e Bradesco e rebaixou as notas de dois - o Indusval e o Rural. No relatório de ontem, a agência indica um cenário propício para promover novas elevações de "rating" dos bancos este ano.