Título: Tesouro capta US$ 500 mi e tem ajuda de banco nacional
Autor: Cristiane Perini Lucchesi e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 17/03/2006, Finanças, p. C8

Mercado Externo Prêmio de risco de 204 pontos básicos é o menor da história

O Tesouro Nacional captou ontem US$ 500 milhões em operação em dólar com demanda de quase US$ 2 bilhões e que contou, pela primeira vez, com a participação de um banco nacional. Os líderes foram o JP Morgan Chase e o HSBC, mas o Grupo Itaú atuou como co-líder. O Itaú já havia ajudado na venda de uma operação de captação externa do governo brasileiro, mas em reais. Em declarações recentes à imprensa, o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, e o secretário-adjunto, José Antônio Gragnani, expressaram seu interesse em aumentar a participação dos bancos nacionais no mercado de captações externas do governo. Segundo o Tesouro, os bancos nacionais já estão preparados para a tarefa. A idéia do Tesouro é que, ao venderem os papéis do Brasil no mercado externo, os bancos nacionais possam ajudar a atrair o investidor externo para a compra de papéis do governo também no mercado interno. Na captação de ontem, a estratégia foi esperar pela divulgação dos números de inflação ao consumidor nos Estados Unidos. Por isso, a venda não começou pelo mercado asiático. Como os dados surpreenderam positivamente, com forte rali nos títulos do Tesouro americano, o Brasil aproveitou a janela e lançou os papéis de vencimento em 2037 pagando o menor prêmio de risco da história: 204 pontos básicos. O Uruguai também captou US$ 500 milhões. O valor da emissão do Brasil não foi ampliado, pois a idéia era apenas levantar US$ 500 milhões de forma a ampliar a liquidez do título de vencimento em 2037, o Global 37. Em janeiro, o governo captou US$ 1 bilhão por meio do mesmo papel, mas com prêmio de risco de 295 pontos básicos. O papel saiu ao preço de 103,747% do valor de face, na comparação com 94,856% em janeiro. Com isso, o retorno ao investidor caiu para 6,831% ao ano, em relação ao 7,557% de janeiro. O cupom (juro nominal) é de 7,125% ao ano. Os recursos entram nas reservas internacionais no dia 23 de março e os cupons serão pagos em 20 de janeiro e 20 de julho de cada ano, até o vencimento final, em janeiro de 2037. A meta do governo brasileiro para captações no exterior é obter até US$ 9 bilhões para o biênio 2006 e 2007. Com a operação de ontem, foram captados US$ 5,341 bilhões do total. Para atuar na liderança de operações do Tesouro, o Grupo Itaú fez alguns "ajustes" em sua estrutura, conta o diretor da área internacional do Banco Itaú, Paulo Soares. O Banco Itaú S/A ficou responsável pela área de vendas de títulos, contatos com clientes, distribuição e para isso utiliza as mesas da corretora em São Paulo, Nova York, Hong Kong e Londres. Já a tesouraria do Itaú Brasil faz o mercado secundário, com atuação em São Paulo, Buenos Aires, Londres e Nova York. A cargo do Itaú Europa, subsidiária portuguesa do grupo, fica a chamada área de "sindicalização", responsável pelo relacionamento com o Tesouro, um cliente especial, com os outros bancos líderes e pela determinação do preço. "Em linha com os grandes bancos internacionais, temos a parte de relacionamento com o cliente segregada da área de vendas, de forma a evitar conflito de interesses", diz Almir Vignoto, chief executive officer (CEO) do Itaú Europa. "A área que dá origem à operação defende o que é melhor para o emissor e a área de vendas, para o investidor", diz Vignoto. Já o Itaú BBA fica responsável pela originação de operações com clientes corporativos.