Título: Ascensão petista em SP pressiona Serra
Autor: Raquel Landim e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2006, Política, p. A6

Eleições Intelectuais do "Movimento Serra Presidente" querem candidatura do prefeito ao governo estadual

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), sinalizou ontem dúvidas sobre ficar na prefeitura ou aceitar uma candidatura ao governo do Estado. O prefeito compareceu na manhã de domingo à cerimônia de inauguração da calha do Rio Tietê, promovida pelo governador do Estado e candidato do PSDB à Presidência , Geraldo Alckmin. Foi a primeira aparição pública dos dois desde que Alckmin o derrotou no processo de escolha do candidato tucano. Serra comemorou ontem 64 anos. O prefeito citou a música dos Beatles que se refere a um homem da sua idade, "sixty-four" ou "sessenta e quatro"; Ele fechou seu discurso com uma estrofe da música. "Eu pergunto para a cidade se ela 'will still need me, will still feed me, now that I am sixty four' ", disse Serra.Traduzindo, o prefeito questionou se a cidade "ainda precisará dele, ainda o alimentará, agora que tem 64 anos". Segundo Alckmin, a candidatura de Serra ao governo do Estado "é um sonho" para o PSDB. " Serra seria uma ótima solução para o governo do Estado, eu diria que é um sonho para o partido", afirmou. A candidatura de Serra ao Palácio dos Bandeirantes é conveniente para Alckmin, porque garantiria o engajamento do prefeito na sua campanha à Presidência da República. Também interessa ao PFL, porque deixaria o partido pouco mais de dois anos e meio à frente da Prefeitura de São Paulo, terceiro maior orçamento do país. Com a saída de Serra, assumiria o vice Gilberto Kassab, do PFL. Apesar dos elogios de Alckmin a Serra, diversos postulantes do PSDB ao governo do Estado estiveram presentes ao evento , como o ex-ministro da Educação, Paulo Renato, o vereador paulistano, José Aníbal e o deputado, Alberto Goldman. O senador Romeu Tuma, do PFL, também estava . A hipótese de Serra deixar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado não é vista mais como fora de cogitação entre os serristas. E três argumentos -usados pelo próprio prefeito - sustentam a desincompatibilização até 31 de março: a pressão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; um superávit estadual de cerca de R$ 5 bilhões e a falta de um nome forte no PSDB para disputar , o que levaria ao fortalecimento petista. Derrotado no embate com Alckmin, Serra ganha incentivos para não sair da disputa eleitoral. Uma das frentes que se consolida na aclamação é a do meio acadêmico, articuladora do movimento "Serra presidente" e que pretende empunhar a bandeira "Serra governador". Em sua lista de signatários, estão nomes como os dos economistas Luiz Gonzaga Beluzzo e José Márcio Rego e os cientistas políticos Francisco Weffort, Gildo Marçal Brandão, Eduardo Kugelmas, Brasílio Sallum e José Álvaro Moysés. O grupo reúne-se hoje para consolidar a transformação do movimento em incentivo à disputa estadual. O prefeito tem dez dias para decidir se aceitará a disputa estadual. Um dos maiores incentivos à decisão é afastar a chance de o PT sair vitorioso no Estado e, dessa forma, cacifar o governador a disputar a Presidência em 2010. "Alckmin teve uma postura de austeridade quase doentia e deixou um caixa de R$ 5 bi. Se Marta ganhar, o dinheiro vai ficar nas mãos do PT e ela se tornará presidenciável para 2010", disse um amigo do prefeito, relatando uma preocupação exposta por Serra um dia depois de Alckmin ser declarado candidato. Outro argumento apresentado pelo tucano é o caixa mais apertado da prefeitura em relação ao ano passado, quando Serra conseguiu arrecadar R$ 500 milhões com a licitação entre bancos para ver quem ficaria com as 70 mil contas-salário de servidores e fornecedores do município. Dentro do partido, interlocutores de Serra descartam a hipótese de o prefeito deixar o cargo antes do fim do mandato. Mas simpatizantes no meio acadêmico, como o economista José Marcio Rego, professor da Fundação Getúlio Vargas, acreditam que farão o prefeito mudar de idéia. Se há consenso no apoio a Serra para governador, o grupo divide-se no apoio a Alckmin à Presidência. Uma das questões é a linha de política econômica a ser defendida pelo governador. Caso o conservadorismo prepondere, o grupo deve manter-se distante. "Se as propostas dele forem mais vinculadas à Fundação Getúlio Vargas, não terá veto. Mas se for à Casa das Garças (centro de debates dominado pelos economistas da PUC-RJ), vamos nos recolher", disse José Marcio Rego, professor da FGV- SP. O ex-petista e ex-ministro da Cultura Francisco Weffort transferirá seu apoio ao governador paulista. "Se o partido entendeu que seria o melhor candidato, então o que nos resta é apoiar". Professor de Ciência Política da USP, Gildo Marçal Brandão faz coro aos que rejeitam Alckmin. "Ele é a opção mais conservadora que o PSDB poderia ter escolhido". Sem filiação ao PSDB, Marçal já foi eleitor de Lula e Serra. Mas descarta a possibilidade de apoio ao governador . "O Serra poderia ter votos da esquerda, dos que deram um voto de confiança a Lula e se arrependeram diante dos escândalos de corrupção. Serra podia romper com a política econômica vigente ou modulá-la. Ele apostaria na retomada do desenvolvimento. Alckmin não".