Título: Diretório Nacional petista evita tema econômico e beneficia
Autor: Cristiano Romero e Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2006, Especial, p. A18
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci , conseguiu uma vitória com a decisão do Diretório Nacional do PT- onde as alas críticas ao governo federal são majoritárias-de contornar em sua reunião no último sábado o debate sobre a política econômica e centrar fogo no PSDB. O diretório não discutiu as recentes denúncias feitas ao ministro da Fazenda, Antonio Palocci, nem esboçou uma definição clara do que pretende para a área econômica. Preferiu aprovar uma resolução na qual ataca a candidatura de Geraldo Alckmin, do PSDB, e vê divisões no principal partido da oposição. "Não reforçamos, nem retiramos o apoio ao ministro Palocci. Consideramos que não cabia tratar do assunto na reunião", disse ao Valor, ontem, o secretário-geral do PT, deputado estadual Raul Pont (RS). Um dos expoentes da corrente Democracia Socialista, mais à esquerda do PT, Pont disse considerar "irrelevantes" as acusações de que Palocci freqüentaria uma mansão em Brasília, usada para lobbies e encontros amorosos. "Isso não tem nada a ver com o governo e o país. Por isso, o texto não trata desse tema", afirmou. Para Jilmar Tatto, da corrente PT de Lutas e Massas, considerada à direita do partido, mesmo sem uma referência específica no documento "há apoio ao ministro Palocci e sua política". A menção mais próxima ao caso Palocci aparece em uma parte da resolução segundo a qual "o PSDB e o PFL foram surpreendidos com a capacidade de recuperação" do PT e, por isso, retomaram o que é chamado de "fúria denuncista". Não existe nada mais explícito, mas só o fato de a ala à esquerda do partido ter poupado Palocci de críticas foi considerado uma vitória do ministro. O governo tem minoria no Diretório Nacional.Essa trégua, porém, não significa que novos confrontos não estejam por vir. Uma das questões é quem vai coordenar a campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Com o enfraquecimento de Palocci, considerado um candidato ao posto, as divergências quanto ao nome ideal podem provocar mais atritos internos. Para Pont, três nomes no partido são os mais indicados: Luiz Dulci, ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República; Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula; e o ex-ministro Tarso Genro. "São eles que teriam mais trânsito e facilidade para incorporar todo o partido no esforço em torno da reeleição", afirmou. O assunto não foi discutido na reunião, disse Tatto, expressando uma posição diferente: "Se for alguém do PT, teria de ser o próprio presidente do partido, Ricardo Berzoini. Qualquer outra saída, disse, seria "artificial". O cronograma é outro ponto a ser acertado. Pont disse achar que alguma indicação deverá ter saído até o encontro do PT, marcado para o fim de abril, ou que o assunto será definido na reunião. Tato discorda. Para ele, será preciso esperar passar o encontro para discutir melhor o tema com Lula. Ambos concordam, porém, que a posição de Lula será preponderante.