Título: Brasil não corre riscos, diz FMI
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Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2010, Economia, p. 10

Problemas enfrentados pela Europa não deverão afetar o ritmo de crescimento da economia brasileira, que entrou na fase crítica com baixo endividamento

São Paulo O diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn, disse em São Paulo que a economia brasileira não corre riscos por causa da crise na Europa provocada pelos desequilíbrios nas contas públicas, apesar de o deficit brasileiro também ter crescido em função da crise mundial. No Brasil, não há os riscos que existem em outros países. (...) Gostaria de ver outras das 86 economias do FMI se saindo tão bem quanto o Brasil, disse Strauss-Kahn no fórum A economia global no mundo pós-crise.

Na avaliação do executivo, a dívida pública de todos os países aumentou durante a crise mundial, mas esse comportamento não se deve aos pacotes de estímulo. A crise decorre do declínio econômico, sentenciou. Segundo ele, a maior vantagem do Brasil é ter entrado na crise com um nível de dívida muito baixo em relação aos países avançados. Lá fora, o Brasil passa a imagem de que existem boas perspectivas para a economia. Eu não vejo nenhuma ameaça à economia brasileira, ressaltou Strauss-Kahn. E completou: Todos os países do mundo devem estar gratos pela parcela de crescimento que provém dos países emergentes como o Brasil.

O executivo do FMI classificou como uma realidade o crescimento de 7% da economia brasileira no último ano do governo Luiz Inácio Lula da Silva; e fez uma ressalva: É claro que há risco de superaquecimento. Mas acho que o governo está perfeitamente consciente disso e tomando medidas corretas. (...) Nossa previsão para 2011 é que a economia voltará a crescer entre 4,5% ou 5%, previu. Segundo o Boletim Focus, divulgado esta semana pelo Banco Central, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deve fechar o ano com um crescimento de 6,46%.

Europa Segundo Strauss-Kahn, a crise financeira ensinou ao mundo que não há como fugir da globalização e que é preciso haver cooperação geral para a solução dos problemas. Evitamos um problema tão grave quanto a Grande Depressão principalmente porque a comunidade internacional somou esforços. É mais fácil fazer todos trabalharem juntos quando se tem medo, disse. Para ele, parte da instabilidade dos mercados financeiros causada pela crise fiscal(1) em alguns países da Europa vai reduzir até o fim do ano. Mas ele não acredita que a crise na Grécia, que respinga no mundo todo, seja resolvida em médio prazo. O problema da Grécia é complicado e resolvível em longo prazo, bem como o plano de recuperação estabelecido pelas autoridades europeias, ressaltou.

O executivo explicou que a crise da dívida grega não será resolvida apenas com a reestruturação da dívida. A Grécia tem dois problemas: o tamanho do deficit e a competitividade, já que, nos últimos cinco anos, 25% da competitividade em relação aos países médios foram perdidos, ressaltou. Strauss-Kahn disse ainda que o esforço mais penoso para os gregos será reconstruir a sua capacidade de disputar mercado com outras nações.

1 - Recuperação econômica James Bullard, um dos diretores do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), minimizou a ameaça representada pela crise grega na reativação da economia mundial. Há muitas razões pelas quais esta nova ameaça à recuperação mundial provavelmente não se transformará em um choque de recessão planetário, afirmou ele. Uma delas é que se trata de uma dívida de Estado e tivemos crise de dívida há muitos anos, disse, referindo-se ao calote da dívida da Rússia em 1988, lembrando que isso não levou a uma recessão mundial.

O número 24 bilhões de euros Valor que o governo italiano vai cortar em suas despesas nos anos de 2011 e 2012

É a vez da Itália

O governo italiano aprovou na noite de ontem uma série de medidas para cortar 24 bilhões de euros (US$ 29 bilhões) de suas despesas em 2011 e 2012. Com isso, a Itália passa a ser o mais recente dos países da Zona do Euro a anunciar um pacote de austeridade. Mais cedo, ainda nesta semana, Inglaterra e Dinamarca também adotaram ações para conter os gastos governamentais.

O pacote inclui o congelamento de três anos dos salários no setor público e uma redução nos pagamentos para importantes funcionários do governo, informou em comunicado oficial o gabinete do primeiro-ministro. No total, as medidas equivalem a cerca de 1,6% do Produto Interno Bruto (PIB).

Os cortes orçamentários estão centralizados em uma redução das despesas estatais, a diminuição no custo das administrações pública e política. Com relação às receitas, as medidas focam a evasão fiscal, diz o documento. O decreto emergencial também abrange a redução de fraude em propriedade por requerentes não autorizados e atrasa aposentadorias previstas para o próximo ano, mas não inclui aumento de impostos, segundo o comunicado.

A intenção do governo é reduzir o seu deficit para menos de 3% do PIB em 2012. Hoje, o rombo nas contas públicas italianas é de 5,3% do PIB.

UE alerta a Grécia

A União Europeia enviou à Grécia uma carta para lembrá-la de cumprir os termos do acordo de resgate de 110 bilhões de euros, disseram autoridades, dias antes de negociações sobre a reforma da aposentadoria. A carta foi enviada depois de o ministro do Trabalho grego ter dito no início da semana que a UE e o Fundo Monetário Internacional (FMI) estavam pedindo o endurecimento da reforma da aposentadoria, que é exigida pelo acordo multibilionário de resgate feito neste mês.

A reforma da aposentadoria é uma importante medida do desempenho da Grécia no programa de resgate de três anos. Qualquer dificuldade pode gerar dúvidas sobre a disposição do governo de implantar o programa. Pela proposta, os pensionistas teriam benefícios completos após 37 anos de contribuição, três anos mais cedo do que o acertado com a UE.

Nós estamos discutindo com a Grécia como fazer a reforma da aposentadoria compatível com o memorando do acordo, disse Marco Buti, diretor-geral para Assuntos Econômicos e Monetários da Comissão Europeia à Reuters.