Título: Banco seguirá padrões internacionais
Autor: Maria Christina Carvalho
Fonte: Valor Econômico, 20/03/2006, Finanças, p. C8
Normas contábeis Banco Central vai adaptar as regras brasileiras até o final de 2010
Os bancos brasileiros mais internacionais queixam-se freqüentemente de ter que fazer dois balanços: um para atender às regras brasileiras e outro para informar os acionistas estrangeiros quando têm ações negociadas no mercado externo ou a própria matriz está no exterior. "As provisões para crédito informadas à matriz levam em conta mais a perda esperada e não há a avaliação do risco de crédito por um sistema de rating do próprio BC, como é exigido no balanço brasileiro. Esse sistema de definir provisões por letras tem que acabar", disse o presidente do banco de capital britânico HSBC Bank Brasil, Emilson Alonso, também presidente da Associação Brasileira dos Bancos Internacionais (ABBI). Mas, a diferença de regras contábeis e de auditoria vai deixar de ser um problema para as instituições financeiras porque o Banco Central (BC) está comprometido a harmonizar as normas brasileiras aos padrões internacionais. A intenção, disse o diretor de Normas, Sérgio Darcy, é levantar as mudanças necessárias até o final do ano e introduzí-las gradualmente nos quatro anos seguintes. "Há um acordo internacional para ter tudo unificado até 2010. Nós vamos entrar nessa", disse Darcy. O BC divulgou a decisão no Comunicado n º 14.259, de 10 de março. A convergência de normas contábeis, segundo o professor da USP Alexsandro Broedel, vai "reduzir o custo das transações no mercado de capitais e melhorar o fluxo de informações para os investidores". Broedel também é diretor de pesquisas da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisa (Fucape) e membro do grupo de consultoria educacional do International Accounting Standards Board (IASB), o organismo internacional que encabeça a cruzada pela padronização das regras contábeis ao lado da International Federal of Accountants (IFAC), que envolve especificamente a área de auditoria. O Brasil tem dois outros representantes no IASB: Roberto Teixeira da Costa, membro do conselho de trustees; e o professor da USP, Nelson Carvalho, presidente do comitê de normas contábeis. Até mesmo o organismo americano de contabilidade, o Federal Accounting Standards Board (FASB), se comprometeu a harmonizar as regras aplicadas aos balanços das empresas locais a um padrão internacional, embora ainda não haja uma data para isso. Para Broedel, a existência de regras contábeis que primam pela transparência e valor justo de mercado é tão importante para a solidez da economia quanto o equilíbrio das contas públicas. "Se a economia é uma engrenagem, isso é graxa na economia." Darcy lembrou que o BC vem modernizando as regras contábeis para os bancos desde o final da década de 90. O marco inicial foi a mudança nas regras de provisões para crédito (Resolução nº 2.682, de dezembro de 1999). Até então, as provisões eram baseadas nas perdas passadas e o BC passou a levar em conta também a perspectiva de problemas futuros. Outro marco foi a regra para a marcação a mercado de títulos. Broedel disse que o impacto da mudança será diferenciado em cada banco e que a filosofia do IASB é ter regras mais flexíveis e baseadas nas boas práticas de mercado.