Título: Furlan critica fortemente plano da Fazenda
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Brasil, p. A4

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, fez duras críticas à proposta da Fazenda de abertura unilateral da economia através de cortes das tarifas de importação. Furlan disse que o plano defendido pela equipe do ministro Antonio Palocci "desconsidera a criação de empregos e a viabilidade econômica de setores que não são tão competitivos por conta do custo Brasil". Para Furlan, "não faz sentido" fazer concessões em meio às negociações da Organização Mundial de Comércio (OMC). Garantiu que o país não promoverá uma abertura da economia sem contrapartida das demais nações, porque a decisão teria que ser aprovada pelos ministros da Câmara de Comércio Exterior (Camex). "Esse é o momento de guardar no bolso as concessões que estudamos. No momento em que as ofertas do outro lado estiverem na mesa, nós estaremos em condição de dar uma contrapartida", disse o ministro, que participou ontem, em São Paulo, de seminário sobre a lei de inovação, promovido pelo Instituto Brasileiro de Convergência Digital (IBCD). A equipe técnica do Ministério da Fazenda defendeu, em reunião recente com empresários, que uma abertura unilateral da economia promoveria um "choque de competitividade" na indústrial. Os integrantes da equipe acreditam que esse movimento ajudaria a aliviar a valorização do real. Para os técnicos, a queda das tarifas significaria aumento das importações, incrementando o fluxo de dólares que sai do país e facilitando a desvalorização da moeda brasileira. Para Furlan, essa é "uma visão natural de quem está administrando uma parte da economia", mas "é tão extremada como aqueles que acham que a simples queda das taxas de juros é solução para o Brasil". Os empresários acreditam que uma queda na taxa de juros estimularia a economia, incrementando as importações e reduzindo a pressão sobre o câmbio. "As duas visões se contrapõem. Só que a queda das taxas de juros tem como fator principal estimular a produção brasileira, gerar e emprego e produtividade", defendeu Furlan. O ministro diz que é a favor da abertura da economia, mas a queda das tarifas de importação deveria vir acompanhada de mudanças estruturais. Para Furlan, o setor produtivo é constrangido por fatores que tiram a competitividade, como dificuldades logísticas, burocracia e juros altos. "Seria natural reduzir a defesa via imposto de importação à medida que as soluções desses problemas trouxessem ganhos de competitividade." A valorização do câmbio tem estimulado as empresas brasileiras a terceirizar a produção para outros países mais competitivos, como China e até Argentina. Para Furlan, esse é um tema que o país terá que "encarar de forma natural", já que as companhias foram estimuladas a se tornarem multinacionais. Admitiu que o Brasil perde empregos, mas afirmou que essa estratégia assegura participação das empresas nacionais em outros mercados. (RL)