Título: Volume cai e preço segura desempenho da exportação
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Brasil, p. A4

Comércio exterior Em fevereiro, quantidade embarcada pelo país recua 0,1% As exportações brasileiras voltaram a crescer em um ritmo mais forte, mas o bom desempenho é garantido pela alta de preço das commodities. Produtos manufaturados - material de transporte, têxteis e calçados - apresentam um resultado fraco em volume, mas também forte em preço. Mesmo com a recuperação das vendas externas, as importações crescem mais rápido, sinalizando redução do saldo da balança comercial. A média diária das exportações brasileiras até a terceira semana de março subiu 19,4% ante março de 2005, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex). Em fevereiro de 2006 em relação a fevereiro de 2005, os embarques aumentaram 12%.

As vendas de produtos básicos para o exterior cresceram 39,5% pela média diária até a terceira semana de março de 2006 em relação a março de 2005. Na mesma comparação, as exportações de petróleo e derivados saltaram 168% e os embarques de minério de ferro subiram 90%. Já as exportações de manufaturados aumentaram 11,7% - sempre na mesma comparação. Este resultado embute uma alta de apenas 4% nas vendas externas de material de transporte e de 6% em produtos têxteis, enquanto as vendas de calçados e couro subiram 11,2%. Dados da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) demonstram que o bom desempenho dos preços, principalmente de básicos, garantiu o resultado da exportação brasileira em fevereiro. Enquanto a quantidade embarcada pelo país caiu 0,1% em relação a fevereiro de 2005, os preços subiram 13%. Na mesma comparação, os preços de produtos básicos cresceram 19% e a quantidade caiu 6%. Já os preços de semimanufaturados cresceram 7% e o volume cedeu 5,5%. Apenas nos manufaturados, a quantidade embarcada subiu (3,3%), mas os preços cresceram bem mais, 10,6%. "Os produtos básicos - minério, papel e celulose, petróleo - têm um forte efeito na balança. O desempenho geral é favorável, mas material de transporte, não tem mais o mesmo vigor de 2005. É um processo retardado do efeito cambial", explica Júlio Callegari, economista do J.P. Morgan. Ele destaca que alguns manufaturados, com maior conteúdo de insumos importados, apresentam bom desempenho. É o caso dos produtos elétricos e eletrônicos, cujos embarques subiram 18,6% no acumulado até a terceira semana de março ante março de 2004, por conta das vendas de celulares. Na avaliação dos economistas do Bradesco, "os resultados da exportação melhoraram, mas os setores com bastante mão-de-obra, que enfrentam concorrência chinesa, não estão com o desempenho muito bom". Eles destacam que a alta do preço do petróleo influencia até os resultados das exportações de manufaturados, já que gasolina e óleos combustíveis estão incluídos nesse grupo. O fôlego do crescimento das exportações de manufaturados está mais fraco. Segundo dados da Secex elaborados pelo Valor Data, a média diária da exportação de manufaturados no acumulado em 12 meses cresceu 17,5% até a terceira semana de março. Esse crescimento era de 19,3% em fevereiro e 23,5% em dezembro de 2005. As importações seguem tendência verificada desde o início do ano e crescem em ritmo mais acelerado que as exportações. Até a terceira semana de março em relação a igual mês de 2005, as importações subiram 25,3%. Em igual período, as compras externas de equipamentos elétricos e eletrônicos subiram 68,6%, de produtos siderúrgicos cresceram 37,1% e de automóveis e autopeças, 18,7%. Cálculos do J.P Morgan demonstram que, na margem, as importações também estão crescendo mais forte do que as exportações. O banco prevê que a média diária das exportações em março será 0,7% maior que fevereiro na série livre de efeitos sazonais, enquanto as importações devem crescer 2,5% nessa comparação. "Embora as exportações continuem crescendo, a tendência é de uma velocidade maior no crescimento das importações esse ano", afirmou o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Ele acrescentou que estão crescendo as compras externas de bens de capital, componentes eletrônicos e matérias-primas, "o que é positivo para a indústria brasileira".