Título: Oposição já duvida da candidatura Garotinho
Autor: Raquel Ulhôa
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Política, p. A9

Eleições PMDB oposicionista prevê que a convenção não homologue a postulação do ex-governador do Rio

O resultado da consulta realizada pelo PMDB no domingo, em 22 Estados, sobre o candidato próprio à Presidência da República acabou agradando a todas as alas do partido e, ao que tudo indica, não terá nenhum efeito prático. Os pemedebistas das facções governista e oposicionista prevêem que a convenção nacional não irá homologar a candidatura do ex-governador Anthony Garotinho (RJ) - que saiu vitorioso, embora tenha recebido quase a metade dos votos do seu concorrente, o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto. Ontem, o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que era favorável às prévias, reconheceu que a consulta não teve validade jurídica, por decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça). "Mas o partido deu uma manifestação expressiva de que quer candidato próprio", disse, relativizando a decisão de domingo. Passado o embate em torno das prévias, as alas governista e oposicionista do PMDB já buscam entendimento. Temer propôs que os governistas desistam do pedido de antecipação da convenção para 8 de abril e que ela seja realizada em junho. O presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), e o líder do partido no Senado, Ney Suassuna (PB), sinalizaram positivamente. Até junho, o STF (Supremo Tribunal Federal) já terá tomado a decisão sobre a regra da verticalização das coligações partidárias. Como a expectativa geral é que o STF obrigue os partidos com candidato ao Palácio do Planalto a seguirem nos estados as alianças feitas para a eleição presidencial, dificilmente os diretórios estaduais do PMDB apoiarão a candidatura própria. Para o partido, é mais vantajoso não disputar a Presidência da República e ficar livre nos Estados para realizarem as alianças mais convenientes. A ala governista do PMDB comemorava o fato de Garotinho ter vencido a consulta com apenas 38,81% dos votos (4.807), o que desmistificaria a suposta força dele na legenda à qual está filiado há cerca de três anos. "O PMDB mostrou que não tem espaço para outsider", disse um pemedebista histórico. Rigotto, que teve 7.580 dos votos (61,19%) dos pemedebistas na consulta de domingo, foi derrotado por causa do cálculo definido pela Executiva Nacional, baseado nos pesos diferenciados dados a cada Estado - baseado nas bancadas eleitas em 2002. Depois da reação negativa de domingo à noite, quando ameaçou contestar o resultado, Rigotto ontem reconheceu a vitória de Garotinho e prometeu apoiá-lo na convenção. "Esse critério gerou grandes distorções, mas eu acato o resultado. A tese da candidatura própria continua. Embora as prévias tenham sido transformadas pela Justiça em consulta, não vou disputar a convenção. Eu puxo o freio. Garotinho que fique com o bastão", afirmou o governador gaúcho, em entrevista em Brasília. Ele afirmou que não disputará nenhum mandato nas próximas eleições, mas aliados seus ainda acreditam que ele concorrerá à eleição. Garotinho continuará falando como pré-candidato do PMDB a presidente até a convenção de junho. Até lá, a expectativa é que os candidatos tenham avançado nas negociações de suas alianças partidárias e não aceitem a restrição que seria imposta por uma candidatura própria. O ex-governador do Rio tem aparecido nas pesquisas de intenção de voto sem chance de vitória, mas com potencial de levar a disputa presidencial para o segundo turno, o que é uma ameaça às chances de reeleição do presidente da República.