Título: Tropas na fronteira
Autor: Edson Luiz
Fonte: Correio Braziliense, 26/05/2010, Mundo, p. 16

Preocupado com a presença da guerrilha das Farc no território brasileiro, governo prorroga por 90 dias a missão da Força Nacional de Segurança em postos no Amazonas. Exército planeja instalar mais 38 pelotões em áreas fronteiriças da Região Norte

O governo brasileiro decidiu manter a Força Nacional de Segurança Pública na fronteira com a Colômbia enquanto houver risco de aproximação do narcotráfico. Há quase 20 dias, a Polícia Federal prendeu um traficante ligado às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que têm uma rede logística instalada no Amazonas, e as autoridades não descartam a presença de mais guerrilheiros em território brasileiro. A maior preocupação da PF quanto à presença das Farc no país é a atuação da guerrilha colombiana no tráfico de cocaína.

A Força Nacional estava auxiliando a polícia amazonense e a PF na fiscalização da fronteira Tabatinga, no extremo sul da divisa, até São Gabriel da Cachoeira, no extremo norte, na área conhecida como Cabeça do Cachorro. Na semana passada, após a prisão de José Samuel Sanchez, responsável pela logística das Farc, o governo do estado pediu a manutenção dos militares por mais 90 dias, e foi atendido pelo governo federal. Coma presença da Força Nacional, a criminalidade se reduziu na fronteira. Por isso, a comunidade solicitou a permanência por pelo menos 90 dias, afirma o deputado Lupércio Ramos (PMDB-AM), um dos políticos que intercederam com o ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, pela permanência dos militares.

Segundo o deputado, a presença da organização guerrilheira no país é recorrente na região de fronteira. Falam bastante sobre a entrada das Farc no Brasil. Esse é um assunto que perdura há anos, afirma Ramos. O parlamentar explica que a ausência de uma atividade econômica nas regiões mais remotas do estado faz com que o narcotráfico e a guerrilha recrutem pessoas inocentes para a criminalidade. Pode ser até que não haja presença (das Farc) em território nacional, mas com certeza há influência na população local, diz o deputado.

A Força Nacional deverá manter sua área de atuação, que são cidades ao longo do Rio Solimões, concentrando um contigente de 100 militares em Tabatinga, Benjamin Constant, Atalaia do Norte, Santo Antônio do Içá, São Paulo de Olivença, Amaturá, Jutaí e São Gabriel da Cachoeira. Os municípios são considerados vulneráveis, devido a sua localização estratégica, entre o rio e a floresta.

Reforço A presença do narcotráfico aliado à guerrilha na fronteira não preocupa apenas as autoridades de segurança pública, mas também as Forças Armadas. Além de transferir brigadas do Rio Grande do Sul e do Rio de Janeiro para a Amazônia, o Exército pretende criar 38 pelotões especiais de fronteira em todos os estados da Região Norte. Quatro deles já estão em andamento, em Vila Contão (RR), Tunuí (AM), Tiriós (PA) e Marechal Thaumaturgo (AC). A medida faz parte do Projeto Amazônia Protegida, que reforçará militarmente a região até 2030.

As informações sobre a presença das Farc no Amazonas foram confirmadas com a prisão de Sanchez, no último dia 8, mas a movimentação da organização na região é um fato antigo. A Polícia Federal chegou a montar um posto na vila de Melo Franco, na Cabeça do Cachorro, em 2004, já que havia suspeita de que integrantes da guerrilha colombiana estavam atraindo índios brasileiros para a organização. Depois, a PF apreendeu no Rio Solimões um barco de bandeira nacional que estava levando remédios e munição para as Farc. O medicamento tinha sido desviado de postos médicos em cidades do Amazonas.

Falam bastante sobre a entrada das Farc no Brasil. Pode ser até que não haja presença (das Farc) em território nacional, mas com certeza há influência na população local

Lupércio Ramos, deputado federal (PMDB-AM)

Os generais de Uribe

Jorge Enrique Mora Foi para o comando das Forças Militares logo no início do governo de Álvaro Uribe, em 2002, com a missão de atacar as Farc na antiga zona desmilitarizada (para conversações de paz). Caiu em 2004, depois de atritos com a então ministra da Defesa, Martha Lucía Ramírez.

Carlos Alberto Ospina Comandava o Exército quando foi escolhido para suceder Mora. Deixou o cargo em 2006, oficialmente por tempo de farda, mas em meio a denúncias sobre execuções sumárias de civis depois apresentados como guerrilheiros, o escândalo dos falsos positivos.

Freddy Padilla Assumiu o comando das Forças Militares no lugar de Ospina e colecionou vitórias de impacto sobre as Farc, como o bombardeio que matou o comandante guerrilheiro Raul Reyes e o resgate da ex-candidata presidencial Ingrid Betancourt, ambas operações realizadas em 2008. Foi ministro interino da Defesa, em 2009, quando Juan Manuel Santos se afastou para disputar a sucessão de Uribe.

Mario Montoya Sucessor de Padilla no comando do Exército, fez fama no Caquetá e depois em Medellín, onde erradicou as milícias urbanas das Farc, em 2002. Cotado para assumir o comando das Forças Militares, renunciou por causa dos falsos positivos, em 2008, e foi nomeado embaixador na Costa Rica.

Guerrilha multiplica ataques contra o exército

Viviane Vaz

A quatro dias da eleição presidencial, as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) intensificaram os ataques no departamento de Caquetá, no sul do país. Na segunda-feira, nove fuzileiros navais foram mortos quando tentavam sitiar um acampamento de onde os rebeldes lançariam operações militares no dia da votação.

A ofensiva guerrilheira, que atinge também o sudeste e o sudoeste, coincide com a renúncia do comandante das Forças Mi-litares, general Freddy Padilla.Em carta ao presidente Álvaro Uribe, Padilla justificou a decisão em nome de deixar à vontade o próximo governo, mas nas últimas semanas oficiais da reserva comentaram que a tropa estaria com o moral baixo.

Analistas dizem que em época de eleições a guerrilha procura mostrar força. O último ataque ocorreu entre as localidades de Solano e Cartagena del Chairá, na região onde se desenrolaram as frustradas negociações de paz entre as Farc e o governo de André Pastrana, de 1999 a 2002.

Para a Missão de Observação Eleitoral, integrada por várias organizações civis, ainda há risco de episódios de violência durante a jornada eleitoral. Lamentavelmente, nos últimos 15 dias as Farc deram demonstração de sua violência com atos em seis departamentos do país, afirmou Alejandra Barrio, representante do órgão de vigilância. Os eleitores de Caquetá cobram mais transparência do governo. No portal Caqueta.com, a internauta Martha denuncia a falta de garantias em Florencia (capital) e em todo o departamento.

O Departamento Administrativo de Segurança (DAS), serviço de inteligência da Colômbia, anunciou que pelo menos 66 municípios estão em alerta diante da ameaça de ataques guerrilheiros. Para aumentar a segurança durante a votação de domingo, Uribe anunciou a mobilização de 350 mil soldados e policiais. A proteção dos candidatos presidenciais também foi reforçada, principalmente a de Gustavo Petro, do partido esquerdista Polo Democrático Alternativo, que disse ter recebido ameaças de morte por parte das Farc.

Para o analista político León Valencia, a ofensiva das Farc produz o paradoxo de criar um clima favorável à coalizão de governo. Uribe obteve suas duas vitórias eleitorais pelo medo à guerrilha, e os candidatos independentes rezam todos os dias para que os insurgentes não queiram ou não possam lançar ações militares de grande alcance, disse Valencia ao jornal La Nación.

O medo de represálias e o difícil acesso às seções eleitorais também influem no alto índice de abstenção nas áreas rurais. Em 2008, Caquetá registrou comparecimento de apenas 32,38% nas eleições para a Câmara dos Deputados, consideradas de alto índice de participação.

O número 66

Total de municípios colombianos colocados em alerta por causa de ameaças da guerrilha à eleição presidencial