Título: Conab revisa safra, e Lula não vai superar FHC
Autor: Mauro Zanatta
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Agronegócios, p. B12

2005/06

O presidente Lula não conseguirá, neste mandato, quebrar o recorde da safra de grãos registrado no governo Fernando Henrique Cardoso. Frustrada por duas temporadas em razão do clima adverso, a safra beirou o recorde no primeiro ano do atual governo, mas deve fechar este último de gestão com 122,56 milhões de toneladas, segundo previsão divulgada ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Se confirmado, o resultado será 606 mil toneladas (0,5%) inferior ao recorde histórico de 123,16 milhões de toneladas colhidas no ano-safra 2002/03. Para reforçar a tendência, a Conab admite que o volume pode ser ainda menor por causa das incertezas em relação ao plantio da safrinha de inverno, sobretudo de milho e trigo. "É cedo para calcular essa redução, mas há sinais claros de desestímulo no Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso por causa dos preços abaixo do mínimo", afirmou Eledon Pereira, gerente de Avaliação de Safras da estatal. No Paraná, a saca de milho caiu de R$ 15 em 2005 para R$ 9,75 neste mês, segundo estudos da Conab. E a tonelada de trigo recuou de R$ 326 para R$ 316. As importações de trigo devem aumentar 800 mil toneladas nesta safra, para 6,1 milhões. Na previsão anterior, divulgada no início de fevereiro, o governo previa a colheita de 124,4 milhões de toneladas na atual safra 2005/06, que se estende até junho. A quebra de 1,84 milhão de toneladas (1,5%) entre uma estimativa e outra deveu-se, segundo a Conab, aos efeitos da seca nas lavouras de feijão na Bahia, soja e milho no Paraná e milho em Minas Gerais. Entre soja e milho, a seca quebrou 1,9 milhão de toneladas. Houve um forte redução na produtividade do milho em Mato Grosso (13,4%), Minas (11%), Paraná (4%) e Goiás (2,3%). Na soja, os índices caíram 4% no Paraná, 1,5% em Minas, 1% em Mato Grosso, 2,2% em Goiás e 9,5% na Bahia. Castigada pelas secas no Sul e chuvaradas no Centro-Oeste, a expansão da safra esbarrou em uma forte perda de renda dos produtores - em 2005, foram R$ 26,6 bilhões a menos no campo. Os grãos vivem uma crise de liquidez e os produtores reclamam do câmbio e da falta de apoio do governo federal à comercialização da safra. Pelos números divulgados ontem - e que agora serão publicados mensalmente - os produtores de grãos colherão uma safra 7,6% maior do que no ciclo 2004/05 em uma área 2 milhões de hectares (4,2%) menor, de 49 milhões de hectares. O resultado evidencia a evolução na produtividade de outras culturas. Carro-chefe da produção nacional, a soja deve render 57,2 milhões de toneladas nesta safra, um crescimento de 11% sobre as 51,45 milhões de toneladas de 2004/05. A área plantada caiu 5%, de 23,3 milhões para 22,15 milhões de hectares, por causa dos preços baixos em real e da perda de rentabilidade na comparação com milho e cana. Prejudicada pela falta de liquidez e pelo pesado endividamento trazido das últimas três safras, a área plantada de algodão cairá 60%, sobretudo em Mato Grosso e Goiás. A área deve recuar de 1,18 milhão para 825,8 mil hectares. A produção da pluma deve somar 1 milhão de toneladas, 23% inferior às cerca de 1,3 milhão de toneladas da safra anterior. "Teremos que importar 200 mil toneladas de pluma", admitiu o presidente da Conab, Jacinto Ferreira. A produção de milho da primeira safra está estimada em 31,9 milhões de toneladas, um crescimento de 17% se comparadas às 27,2 milhões de toneladas da safra passada. No total, o milho deve alcançar 40,8 milhões de toneladas, resultado 17% superior às 35 milhões de toneladas de 2004/2005. A área de arroz também cairá 20% por causa de uma redução recorde de 60% em Mato Grosso.