Título: Bradesco leva Amex por US$ 490 mi
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Finanças, p. C1

Negócio Banco terá exclusividade de emissão da bandeira por dez anos; Unibanco fez oferta

O Bradesco anunciou ontem a compra das operações brasileiras da American Express (Amex) por US$ 490 milhões. O banco terá a exclusividade de emissão dos cartões da bandeira americana por dez anos, prorrogáveis por mais dez anos. Para o presidente do Bradesco, Marcio Cypriano, a principal vantagem da aquisição é complementar os produtos para os clientes de alta renda do banco. O Bradesco levou todas as operações financeiras da American Express no país, incluindo a carteira de R$ 140 milhões de crédito direto ao consumidor, serviços de viagens, de câmbio no varejo e corretagem de seguros, além da emissão dos cartões. Já os negócios de cheque de viagem ("traveller cheques") da Amex continuam na mão da empresa americana, que manterá um escritório de representação aqui. As negociações começaram em agosto de 2004. Segundo Cypriano, a Amex não estava à venda, mas o Bradesco resolveu procurar a empresa por causa dos negócios complementares e tentar uma parceria. Segundo o Valor apurou, as conversas ganharam força na metade do ano passado. O Unibanco também chegou a negociar a compra da bandeira. Segundo uma fonte, os dois bancos foram qualificados pela Amex para adquirir seus negócios aqui. A empresa americana preferiu fazer uma negociação mais discreta, sem abrir para todo o mercado. "A Amex não queria um processo amplo", disse. Em setembro, as negociações se intensificaram. A Amex está no Brasil há 25 anos. Para o presidente da American Express International, Edward Gilligan, a venda das operações locais para o Bradesco vai garantir que a bandeira tenha "mais 25 anos de sucesso" aqui. Ele participou de uma teleconferência ontem, junto com Cypriano e Marcelo Noronha, vice-presidente da área de cartões do Bradesco, para anunciar a operação. Uma das principais razões da cessão da marca American Express para o Bradesco no Brasil é a necessidade de expandir a rede de aceitação da bandeira no país, afirmou o porta-voz da companhia nos EUA, Lee Middleton. O Bradesco será responsável pelo gerenciamento da rede de estabelecimentos credenciados, e deve aumentar esta rede usando sua presença nacional via agências e relacionamento corporativo. "A marca poderá crescer mais rapidamente nessa associação com o Bradesco", afirma. Middleton diz que há vários países nos quais a Amex opera com um modelo semelhante, no qual a emissão dos cartões Amex é feita por um parceiro- incluindo China, África do Sul e Israel, Leste Europeu e Portugal. A bandeira está presente em 90 países. Na teleconferência, os executivos detalharam o acordo. O Bradesco terá a exclusividade da emissão dos cartões do segmento "Centurion" no Brasil, que inclui os plásticos Green, Gold e Platinum, os mais tradicionais da Amex. Segundo Noronha, o desenho dos cartões será inicialmente mantido, mas "no futuro, naturalmente, vamos começar a compartilhar nossas marcas". Os 2,2 mil funcionários da Amex no Brasil serão absorvidos pelo Bradesco, garante Cypriano. A emissão de novos cartões Centurion pelo Bradesco terá receita compartilhada com a American Express. O porta-voz da Amex apenas informou que haverá compartilhamento de receita futura, sem divulgar a divisão exata. Mas esta pode ter sido a razão para que o preço inicial pago pelo banco brasileiro, US$ 490 milhões, tenha ficado abaixo do US$ 1 bilhão negociado inicialmente. Sobre o valor da operação, Cypriano disse que o Bradesco pagou o "preço justo". A American Express diz que "não está deixando o Brasil", mas fechou a parceria para aumentar a penetração de sua marca no país. O segmento "Blue Box", os cartões mais "populares" da Amex, não estão incluídos no acordo de exclusividade e continuarão sendo emitidos por outros bancos, entre eles o HSBC, principal banco emissor da bandeira no Brasil, com mais de 250 mil plásticos. Toda vez que um usuário pagar uma conta com um desses plásticos em uma das leitoras da Amex (os chamados POS), a taxa cobrada pela operação (na média de 2%, dependendo do tamanho do estabelecimento) vai para o Bradesco. A Amex está presente hoje em 120 mil pontos no Brasil. Com a aquisição, a participação de Bradesco no mercado local de cartões cresce significativamente. Em 2005, o banco fechou com 8,7 milhões de plásticos. Esses cartões movimentaram R$ 13,8 bilhões, 10,7% do que o mercado movimentou. No mesmo período, os cerca de 1,2 milhão de cartões da Amex movimentaram R$ 8,9 bilhões, 6,9% do mercado. Agora, a fatia do Bradesco sobe para 17,6%. Hoje, o banco seria o maior do mercado de cartões, mas, com a conclusão da cisão da Credicard, o Itaú deve ultrapassar o Bradesco, com 12,5 milhões de plásticos. Segundo Cypriano, o objetivo do Bradesco é aumentar em 2,5 milhões sua base de cartões este ano (sem contar os plásticos da Amex). Ele prevê crescimento de 20% no faturamento do mercado de cartões de alta renda este ano. Na área "Prime" (para clientes com renda mensal acima de R$ 4 mil), o banco tem 200 agências e 280 mil clientes, todos potenciais usuários dos cartões da Amex. Além disso, há mais 500 mil clientes que se enquadram no perfil "Prime", mas que ainda não estão classificados como tal. O negócio foi assessorado pelo Goldman Sachs, que foi contratado pela Amex em setembro, e pelo departamento de mercado de capitais do Bradesco. A operação, que ainda depende da aprovação das autoridades regulatórias brasileiras, deve ser concluída até o final deste semestre.