Título: Rumor de medidas faz dólar subir 1,17%
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Finanças, p. C2

Fortes rumores de que o Banco Central está prestes a baixar medidas administrativas destinadas a restringir a entrada no país do capital estrangeiro de curto prazo provocaram ontem vigorosa alta do dólar comercial. A moeda fechou a R$ 2,1510, com valorização de 1,17%, em um dia favorável à baixa. Sem os boatos, a tendência seria de queda porque o cenário externo foi de calmaria -os juros dos treasuries de 10 anos caíram de 4,67% para 4,64% - e o destino do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, não preocupa os mercados. Os analistas esperam que o ministro se licencie do cargo no final do mês, para coordenar a campanha de Lula à reeleição, sem perda de imunidade capaz de expô-lo a constrangimentos policiais. Os rumores foram recebidos pelo câmbio como verdade consumada porque só a adoção de medidas administrativas poderiam explicar as até então contraditórias posições compradas em dólar dos bancos. Os comentários foram de que o BC pode tanto impor uma quarentena ao capital estrangeiro que ingressa no país atrás do juro real quanto dispositivos de filtragem da qualidade do investimento por meio de tributação à vista e no mercado futuro de dólar. O capital destinado à compra de ações ou títulos primários de emissão do Tesouro ficaria isento da taxação. Já aventadas no ano passado, tais providências assumiram contornos de realidade porque, atualmente, têm lógica econômica capaz de superar a aversão que nutrem por elas os defensores das políticas neoliberais. No ano passado, o BC, ao contrário de agora, não estava "ativo" em dólar e fazia intervenções de fôlego à vista e no futuro. Agora não mais: não vende contratos de swaps reversos há dez pregões e as compras de dólares no segmento "spot" são protocolares.

Juro longo avança com fuga de estrangeiro

As instituições já estão preparadas para a adoção de medidas administrativas contra a queda do dólar. Sem razão aparente, elas zeraram posições vendidas de US$ 4,7 bilhões no final de janeiro e hoje carregam caixa comprado em US$ 2,5 bilhões, como que adivinhando a urgência de soluções dessa natureza. O raciocínio está correto: como o BC não pode mais adquirir moeda com a desenvoltura de antigamente e como não quer cortar fortemente a Selic só resta a ele bloquear o acesso do capital externo arisco ao paraíso monetário nacional. Tais medidas na área de câmbio também são coerentes do ponto de vista da política monetária. Elas impedem a queda do juro longo, já que o fechamento da última ponta da engenharia financeira requerida pelo Non-Deliverable Forward - contrato internacional de derivativo informal de venda de dólares e compra de reais - implica o declínio dos CDI de mais longo prazo. Ontem, o swap de 360 dias avançou de 14,90% para 14,95%, embutindo juro real de 10,14%. Ao agir sobre o câmbio, o BC evita que o juro real caia a um dígito, estimulando a economia e gerando pressões inflacionárias. Não foi à toa que o contrato mais negociado ontem na BM&F, o referente a janeiro de 2008, com giro de R$ 8,16 bilhões, subiu de 14,46% para 14,53%.