Título: Para empresários, TJLP poderia cair a 7%
Autor: Vera Saavedra Durão
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Finanças, p. C14

Financiamento Subsidiado CMN deve cortar em 0,75 ponto percentual a taxa de empréstimos do BNDES

O BNDES está na expectativa de o Conselho Monetário Nacional (CMN), na reunião do dia 29, baixar a TJLP de 9% para 8,25% ao ano, a vigorar no segundo trimestre. Esta seria a menor TJLP usada pelo banco de fomento desde que a taxa foi criada, ainda na gestão de Pérsio Arida à frente do Banco Central, no fim de 1994. Caso seja aprovada a redução, o custo dos empréstimos do BNDES cai dos atuais 10,8% em média (TJLP de 9% mais spread básico médio de 1,4% e spread de risco médio de 0,4%) para 9,69% ao ano - ainda assim, acima do custo das captações internacionais das grandes empresas, na faixa de Libor (a taxa interbancária de Londres) mais 1% a 4%, ou seja, entre 6% a 9% ao ano. Para empresários como Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Base (Abdib), a nova TJLP poderia ser menor. "Pela fórmula divulgada, haveria espaço para uma queda de 1,5 ponto percentual, declinando para 7,5% ou mesmo 7%." O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, segue o mesmo raciocínio: "Não há argumentos que sustentem uma TJLP acima de 7% ao ano", defende. A TJLP é calculada com base no risco-Brasil e na meta de inflação para os próximos 12 meses. Nessa conta, tendo como base a meta de inflação de 4,5% para 2006 e risco-Brasil em 2,5 pontos percentuais, a TJLP seria de 7%. "A taxa não poderia estar em 9% se fosse seguido rigidamente o cálculo. Mas penso que o que o CMN vai seguir mesmo é o padrão da Selic" (cortando a taxa em 0,75 ponto percentual), disse Godoy. Embora os pedidos de consulta para novos financiamentos no BNDES tenham crescido 42% no primeiro bimestre, Godoy reconhece que o banco ainda tem dificuldade de demanda, pois as grandes empresas estão conseguindo captar no exterior a custos convidativos. "Tem gente conseguindo fazer captação a a 6,5%", argumenta. Ainda assim, ele considera importante a sinalização da TJLP para baixo. O diretor de relações com investidores da Light, Paulo Roberto Ribeiro Pinto, reconhece que o custo do crédito no exterior atualmente é mais atrativo, mas pondera que a exposição cambial também é um fator a ser considerado. Segundo ele, quando a empresa faz o "hedge" (proteção) da dívida, pode ficar mais caro. "Quem tiver segurança que o câmbio continuará sobrevalorizado até o fim do ano, entre R$ 2,10 e R$ 2,20, optar pela captação externa pode ser melhor. Para quem tem investimento fixo de longo prazo, no entanto, o dinheiro do BNDES pode representar mais estabilidade." Ribeiro Pinto contou que a Light teve problemas em 1999, quando mudou o regime cambial no Brasil. "A Light tomou recursos lá fora e o dólar começou a disparar. A dívida em reais cresceu 65%, o que nos deu muita dor de cabeça", lembra. A Suez Energy, grupo belga que controla a Tractebel Energia, opta por não correr risco cambial. "Nós sempre preferimos captar em moeda local. No Brasil, em reais, pois nossos projetos de geração de energia geram receita em reais", diz Gil Maranhão, diretor de desenvolvimento de negócios da Suez. A Suez já enviou consulta ao BNDES para financiar as usinas de Estreito - onde detém 40% da sociedade com Vale do Rio Doce, Alcoa e Camargo Corrêa - e de São Salvador (onde controla 100%). O projeto de Estreito vai custar R$ 2 bilhões e o de São Salvador, R$ 800 milhões. A Braskem, líder no setor petroquímico, na hora de levantar recursos faz os dois movimentos: utiliza linhas do BNDES, no caso de grande projetos, e capta no exterior, quando há uma janela de oportunidade, informa o diretor de relações corporativas, Alexandrino Alencar. O BNDES conta este ano com R$ 60 milhões para financiar investimentos. Só para projetos industriais e de infra-estrutura, programa gastar R$ 43,5 bilhões, sendo R$ 25 bilhões para a indústria e R$ 18,5 bilhões para infra-estrutura.