Título: De volta à cena
Autor: Danilo Fariello
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, EU &, p. D1

Investidores pequenos entram na bolsa por fundos de recursos próprios da Vale do Rio Doce e da Petrobras, que têm boas projeções

No começo deste ano, as grandes estrelas da bolsa de valores entre os pequenos investidores brasileiros são novamente Petrobras e Vale do Rio Doce, que atraem grande parte do dinheiro das pessoas físicas em busca de opções na renda variável. Neste ano, o volume de captação dos fundos de privatização é um quarto do volume total investido em fundos de ações por clientes de todos os tipos, incluindo aqueles de maior porte. Desde o segundo semestre do ano passado, Banco do Brasil, Bradesco, Unibanco, Caixa Econômica, Safra e, mais recentemente, Itaú reabriram para aporte suas carteiras de recursos próprios, ou seja, de dinheiro disponível. A retomada das aplicações fez disparar o patrimônio dos fundos. Os fundos da Petrobras captaram R$ 564 milhões neste ano, até terça-feira, enquanto as carteiras da Vale receberam R$ 99 milhões, segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). A carteira da Petrobras para recursos próprios do Banco do Brasil, por exemplo, tinha apenas R$ 14 milhões há um ano e, na sexta-feira, com a rentabilidade das carteiras e a captação ao longo desse período, o patrimônio pulou para R$ 370 milhões. No caso da Vale, esse avanço foi de R$ 57 milhões para R$ 187 milhões. Também um novo fundo foi criado nessa onda. No mês passado, o BRB criou o FIA Petrovale, que investe nos dois papéis e aceita aportes a partir de R$ 500. Em menos de um mês de operações, a carteira já acumula patrimônio superior a R$ 1 milhão. Ambos os papéis, Petrobras e Vale, são vedetes entre trabalhadores que puderam aplicar parte do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nessas ações e obter rentabilidades de mais de 500% desde agosto de 2000, no caso da Petrobras, e de cerca de 450% desde março de 2002, para a Vale. Mas aplicar o FGTS novamente não mais será possível. Mas a popularidade desses fundos não se justifica apenas pelo passado glorioso. Equipes de bancos, corretoras e consultorias têm boas projeções de rentabilidade para esses papéis no futuro. O Unibanco, por exemplo, reabriu essas carteiras e indica a aplicação em relatório aos clientes explicando que "no ano passado a Petrobras bateu novo recorde ao lucrar cerca de R$ 23 bilhões, o maior resultado de uma empresa brasileira em todos os tempos." Já a Vale apresentou lucro de cerca de R$ 10 bilhões, o maior de uma empresa privada brasileira na história, completa o relatório do banco. Segundo análises coletadas pela Thomson Financial, o preço-alvo médio para as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Petrobras é de R$ 52,75 e as recomendações dos analistas são, preponderantemente, de compra. Esse preço está 23% acima do fechamento de sexta-feira. Para a Vale PNA (também sem direito a voto), a projeção média de R$ 125,94 está 48% acima do preço de sexta-feira. Apesar de os fundos possuírem os papéis ordinários (ON, com direito a voto) das empresas, eles tendem a ter um ganho similar aos papéis PN e PNA ao longo do tempo. Vale lembrar que os preços alvo levam em conta as projeções de desempenho das empresas, mas dependem das condições de mercado para se confirmar. Neste ano, até sexta-feira, Petrobras PN acumulava alta de 16,59% e Vale PNA, de 1,37%. A bolsa foi muito bem nos últimos meses e os investidores foram atraídos pelas ações, diz Herculano Aníbal, diretor de Renda Variável da Bradesco Asset Management (Bram). "Nesse momento, a experiência pessoal de muitos que já lucraram bastante com esses papéis pesou pela escolha dos fundos." Segundo Wilson Risolia, vice-presidente da área de administração de recursos de terceiros da Caixa, com a queda dos juros, os investidores estão começando a considerar a renda variável como uma boa opção de aplicação. Os fundos Petrobras e Vale, para ele, são a porta de entrada natural do pequeno investidor que não está acostumado com bolsa. "São duas empresas grandes, estáveis, que o investidor conhece e se sente confortável em investir", diz Risolia. Os fundos são alternativa interessante principalmente para os investidores de menor porte. Para quem investe, em geral, valores acima de R$ 5 mil, pode ser melhor comprar diretamente as ações na bolsa e driblar a taxa de administração dos fundos, já que as carteiras são compostas por um único papel. Nesse caso, os aplicadores devem comparar o custo da taxa em um fundo de investimento, que pode variar de 2% a 4% ao ano, com o preço da corretagem e da custódia de uma corretora. Além de este ser um período positivo para a bolsa, as ações de Vale e Petrobras têm destaques específicos que justificam suas boas projeções, diz Aníbal, da Bram. Para a Petrobras, o petróleo continua caro no mercado internacional, o que eleva a receita da estatal. No caso da Vale, é esperado um aumento de preço do minério de ferro vendido pela empresa. No entanto, Risolia, da Caixa, destaca que a ação da Vale já subiu muito no passado recente, o que favoreceria a Petrobras na comparação. Talvez esse seja um dos motivos pelos quais os investidores têm preferido, de longe, aplicar na estatal do que na mineradora. Na Caixa, o volume aplicado na Petrobras neste ano é dez vezes maior que a quantia aplicada em Petrobras. Aníbal, da Bram, diz que indica para seus investidores ambos os papéis, mas a preferência é mesmo pela Petrobras, que tem mais potencial de alta. O sucesso das carteiras de Petrobras e Vale fez com que a BB DTVM, administradora de fundos do Banco do Brasil, realizasse uma assembléia em que foi aprovada a aceitação de pessoas jurídicas como cotistas do fundo. "Há uma demanda forte de todos os aplicadores por se tratarem de duas empresas bem conhecidas no Brasil e no exterior", diz Rubens Monteiro, gerente da divisão de ações da BB DTVM. Segundo relatório do Unibanco aos clientes, os dois fundos podem ser excelentes opções, no longo prazo, para aqueles investidores que desejam diversificar suas aplicações em renda variável. Monteiro, da BB DTVM, diz que o principal risco dessas aplicações seria uma saída mais forte do que a atual dos investidores estrangeiros da bolsa paulista. "Por se tratarem de duas das principais ações da Bovespa, elas têm muitos investidores estrangeiros, portanto uma fuga de recursos poderia vir a abalar temporariamente a cotação dos papéis." Os fundos de FGTS têm rendimento praticamente igual às carteiras de recursos próprios, mas, como não podem mais receber investimentos, registram saídas em ritmo constante. Neste ano, os resgates acumulam 2% do patrimônio das carteiras. Os saques são motivados, principalmente, por trabalhadores que passam a ter o saldo do FGTS disponível para resgates.