Título: Multimercado reverte perdas e lidera ganho em março
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, EU &, p. D2

Fundos Apesar da volatilidade, setor no ano já registra R$ 32,5 bilhões em captações líquidas

Depois de apresentarem retornos ruins no início do mês - resultado principalmente da valorização do dólar frente ao real e da queda do Índice Bovespa -, os multimercados voltaram a se recuperar. Entre os dias 9 e 16 deste mês, essas carteiras tiveram uma rentabilidade de 1,20%, ganhando de longe do Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI) - referência dessas carteiras -, que no mesmo período ficou em 0,30%. Com essa arrancada da última semana, os multimercados despontam como a melhor aplicação este mês, com uma rentabilidade de 1,49%, até o dia 16. Essas carteiras estão na frente inclusive dos fundos de renda fixa - que aplicam em papéis prefixados -, que com a queda da taxa de juros, estão rendendo 0,74% no mesmo período. Enquanto a rentabilidade dos fundos, especialmente a dos multimercados, vem num movimento de sobe e desce, a captação se mostra forte e consistente. Desde dezembro do ano passado, segundo o site financeiro Fortuna, o setor de fundos não registra uma única semana de resgates líquidos. Apenas entre os dia 9 e 18 deste mês, por exemplo, o segmento captou R$ 2,8 bilhões. No ano, a captação já chega a R$ 32,573 bilhões, com destaque para os fundos de renda fixa, com aplicações de R$ 10,671 bilhões, seguidos dos multimercados com entradas de R$ 8,181 bilhões. "Essa captação em fundos de maior risco, como os multimercados, e num período em que essas carteiras mostram uma alta volatilidade, revela que os investidores, aos poucos, estão aprendendo a ter mais apetite por risco e a olhar essas aplicações no longo prazo", diz o sócio do Fortuna, Marcelo D'Agosto. A conjuntura econômica de queda de taxa de juros também está contribuindo para o investidor ter mais estômago para risco e até mais paciência para esperar o retorno. "Hoje, o cliente saca o dinheiro se o fundo não retorno em um intervalo de três meses, sendo que antes queria ver resultado já na semana seguinte", diz o sócio da Nitor Investimentos Julho Erse. Esse olhar de longo prazo faz todo sentido, já que a rentabilidade da maioria dos grandes multimercados, entre seis meses e um ano, ultrapassa a referência, que é o CDI, lembra Erse. O desempenho dos ativos financeiros entre os dia 9 e 16 deste mês soprou a favor da rentabilidade dos multimercados, já que essas carteiras possuem grandes aplicações em bolsa de valores e posições vendidas em dólar. A moeda americana se desvalorizou 2,54% frente ao real e o Índice Bovespa subiu 5,08%. No fronte externo, reduziu-se o temor de um aumento mais forte na taxa de juros dos Estados Unidos. Isso fez com que os títulos americanos de dez anos recuassem de 4,80% ao ano - o maior percentual nos últimos dois anos - para 4,65% ao ano. Já internamente, a definição do nome do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, como candidato do PSDB para presidente da República também serviu de empurrão para os ativos financeiros. Na visão dos economistas do mercado, Alckmin tem tudo para dar continuidade à política monetária do governo Lula. Já o prefeito de São Paulo, José Serra, que era o outro nome do PSDB para a presidência, é visto pelo mercado como um político com idéias próprias e muito disposto a mudar o norte da política monetária atual. "O nome de Alckmin tranqüilizou o mercado", lembra Erse, da Nitor. Além dos multimercados e dos fundos de ações, a queda da taxa de juros torna os fundos de renda fixa atraentes. "O juro real (taxa Selic descontada a inflação) continua elevado, entre 11% e 12% ao ano, e os fundos de renda fixa são a melhor forma de capturar esse ganho", diz o vice-presidente da área de administração de recursos da Caixa Econômica Federal, Wilson Risolia. No mês, a Caixa é a segunda instituição financeira com a maior captação, atrás apenas da BB DTVM. Segundo Risolia, essas aplicações se concentram exatamente nas carteiras de renda fixa do banco.