Título: Empresas públicas têm gestão renovada
Autor: Françoise Terzian
Fonte: Valor Econômico, 21/03/2006, Valor Especial, p. F2

Mercado Nomes como Serpro e Proderj tornaram-se grandes compradores de hardware, software e serviços

Elas foram criadas por lei, ganharam clientes a rodo sem muito esforço e, com o tempo, foram deixando de lado a imagem típica de empresa pública burocrática para se transformar em um nomes influentes do mercado brasileiro de TI. Conhecedoras profundas dos processos governamentais e responsáveis por ditar as próximas tecnologias a serem adotadas pelo governo em todas as suas esferas, as empresas públicas de informática crescem, ganham independência - muitas deixaram de receber verba de orçamento para viver de faturamento -, se profissionalizam e viram o alvo de praticamente todos os fornecedores de TI. Embora ainda exista uma visão de rivalidade entre empresas públicas e privadas de informática, a verdade é que o primeiro grupo transformou-se em galinha dos ovos de ouro para o segundo. Nomes como Serpro, Prodesp, Proderj e Prodeb são grandes compradores de hardware, software e serviços (telecomunicações) do mercado. "Do faturamento de R$ 1,3 bilhão no ano passado, 30% foram destinados à aquisição de produtos do mercado como equipamentos, softwares e serviços", diz Sérgio Rosa, diretor do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro) , a maior empresa pública de prestação de serviços em TI do Brasil. Este ano, seu faturamento deve chegar a R$ 1,5 bilhão. Criado em 1964 para modernizar e dar agilidade a setores estratégicos da administração pública, o Serpro hoje contabiliza cerca de 10 mil funcionários e uma lista de tecnologias bem-sucedidas como declaração do imposto de renda via internet, sistemas informatizados que gerenciam o orçamento da União, o site de pregões pela web Comprasnet, entre outros. Sobre a discussão rotineira do mercado do terceirizar ou não serviços e mão-de-obra de empresas públicas de informática, Rosa diz existir um acervo de informação que tem que ser do Estado, por tratar-se de dados estratégicos e operacionais. "Você entregaria o sistema financeiro do país para uma empresa privada administrar?", rebate Rosa, ao dizer que só terceiriza o que não é estratégico ou atividade-fim. Apesar da aparente rivalidade entre empresas públicas e privadas, Tereza Porto, presidente do Proderj e da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Tecnologia da Informação e Comunicação (Abep), diz que é difícil encontrar companhias privadas como o Proderj, que atuem, ao mesmo tempo, como provedoras de soluções (portais e aplicativos web), fornecedoras de dados e de links de acesso à internet, e homologadora de normas e padrões. "Temos o know-how que as privadas não têm, mas nem por isso deixamos de contar com gente da IBM e Microsoft trabalhando para a gente", afirma Paulo Sérgio Varella, diretor-presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado de S.Paulo (Prodesp). Atentas à evolução da tecnologia, as empresas públicas de informática andam de olho na convergência de dados, voz e imagem, em questões como segurança e criptografia e na comunicação sem fio. A grande aposta de Jorge Calmon Filho, presidente da Companhia de Processamento de Dados do Estado da Bahia (Prodeb) , é um data center que consumiu R$ 20 milhões em dois anos, o que inclui desde aquisição de equipamentos, reforma do prédio para abrigar a sala-cofre, até a implantação da infra-estrutura elétrica redundante. "Estamos investindo neste data center por se tratar de um projeto estratégico para o governo, por permitir a ampliação da prestação de serviços públicos eletrônicos ao cidadão", afirma Calmon Filho. Outra área de aposta da Prodeb é a capacitação de pessoal em ITIL (IT Infrastructure Library), que visa assegurar serviços de qualidade. No Rio, Tereza Porto planeja expandir o projeto Município Digital, implantado em Piraí, Rio das Flores e Mangaratiba - todos municípios com menos de 50 mil habitantes. "Somadas a estes três pontos, quatro novas cidades fecharão o primeiro corredor digital do nosso Estado, a partir do qual será fornecido o acesso à internet em alta velocidade para órgãos da administração pública e para a população, para ações de governo eletrônico e de inclusão digital."