Título: Venda do varejo sobe 2,3% em janeiro e indica estoque baixo
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Brasil, p. A6

O varejo brasileiro começou bem o ano, com uma alta de 2,35% no volume de produtos vendidos em janeiro. Foi o quarto mês seguido de crescimento. E o desempenho vem após um dezembro com aumento de 2,34%, uma vez que o dado foi revisado para cima (antes 1,19%). Dessa vez, o segmento de supermercados e produtos alimentícios impulsionou o resultado, com elevação de 4%. No ramo de móveis e eletrodomésticos, as vendas cresceram 1,38%. Apesar de positivo, o ritmo é inferior ao observado ao longo do ano passado. Com um rendimento médio maior e queda do desemprego, a avaliação é que, neste ano, os bens não e semi-duráveis, como alimentos e roupas, sejam o destaque do comércio. Os itens que dependem mais do crédito - como eletrodomésticos e eletroeletrônicos - vão ter alta nas vendas, mas não na magnitude anterior. Sérgio Vale, da MB Associados, diz que o rendimento médio do trabalhador brasileiro deve crescer 2,7% em 2006. No entanto, cerca de 60% desse crescimento vem por meio do aumento de 16,7% no salário mínimo. "E quem ganha salário mínimo são pessoas que não têm muita condição de comprar bens duráveis", diz. Para ele, a expectativa é que o aumento de renda seja canalizado para a melhora do padrão de consumo de alimentos e roupas. "Quem bebia leite tipo C pode passar a comprar o leite B. Ou até consumir iogurtes", diz. O economista Júlio Sérgio Gomes de Almeida, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), ressalta que a concentração do crescimento em um só setor (supermercados) não é algo a ser comemorado. Para este ano, ele estima que o crescimento da renda se traduza no aumento da demanda por bens e não por serviços. Por isso, o varejo pode crescer cerca de 5%. Segundo ele, em 2004 e 2005 o brasileiro desviou boa parte de sua renda para pagar juros e serviços (tarifas em geral, como telefone e energia). Esse ano, com os juros altos, mas em patamar menor, e com os reajustes mais amenos nas tarifas, sobrará renda para o consumo. "Surpreendente", assim o economista-chefe da Corretora Convenção, Fernando Montero, classifica o resultado de janeiro do comércio. Para ele, quando a economia passa por um processo de ajuste como o atual, é importante a acompanhar a demanda, que dita a tendência, mais do que a produção, onde os movimentos de estoque podem criar desvios. Para ele, o resultado da Pesquisa Mensal de Comércio (PMC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) é sinal de aquecimento da atividade econômica. Uma explicação para o bom desempenho do varejo em janeiro e para a queda de 1,3% na produção da indústria no mesmo período, estaria no escoamento do estoque em poder das lojas. "Como a economia não pode desovar estoques indefinidamente e a balança comercial não acumula piora suficiente para esse descolamento, as séries de produção e vendas precisam se encontrar", avalia. Em fevereiro ou no máximo em março, a produção da indústria deve subir. No resultado por regiões do país, mais uma vez, o Norte e Nordeste registraram as maiores altas. Para Vale, da MB Associados, esse movimento é mais uma prova da força das transferências de renda e do aumento do rendimento nessas regiões. Ao mesmo tempo, os Estados do Sul, que sofreram com a quebra de safra, ainda patinam. Em Sergipe, as vendas do comércio subiram quase 40% em janeiro na comparação com o mesmo mês de 2005. No Rio Grande do Sul, situação oposta: recuo de 3,36%.