Título: Ciro vai concorrer a deputado federal
Autor: Raymundo Costa
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Política, p. A12

Eleições Mais seis ministros devem sair até a próxima semana para disputar as eleições de outubro

O ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) deixa o cargo no dia 30 para concorrer a deputado federal pelo Ceará. Até 12 ministros podem sair no fim da próxima semana para disputar as eleições, abrindo espaço para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promover uma minirreforma ministerial que pode servir de pretexto para a demissão do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Dos 12 ministros que analisam disputar as eleições, sete devem efetivamente deixar o governo. Por determinação legal, quem pretende disputar um mandato em outubro deve deixar funções executivas seis meses antes da eleição, a chamada desincompatibilização. É o primeiro obstáculo a ser vencido na campanha eleitoral deste ano, a partir do qual será conhecido quem efetivamente está na disputa. Com a desincompatibilização de Ciro Gomes, personagem importante no xadrez da sucessão, a expectativa agora gira em torno da decisão do prefeito de São Paulo, José Serra, e do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Nelson Jobim. Serra está sendo pressionado a deixar a prefeitura para concorrer ao governo do Estado. Mas, sentindo-se traído na indicação da candidatura presidencial, desconfia da cúpula do PSDB e está hesitante. A saída de Serra pode levar o PT a rever o candidato que apresentará em São Paulo. Hoje o nome favorito é o da ex-prefeita Marta Suplicy, mas, sendo Serra o candidato tucano, os petistas voltam a analisar com mais cuidado o nome do senador Aloizio Mercadante. Já a decisão de Nelson Jobim diz respeito direto ao presidente Lula. O presidente ainda não desistiu de uma eventual coligação com o PMDB, tendo Jobim como candidato a vice na chapa. O nome do presidente do Supremo Tribunal Federal ficou ainda mais bem avaliado no governo, após a sucessão de pesquisas que mostram que a fragilidade da recandidatura Lula é o Sul do país. Jobim é gaúcho. Ciro Gomes, aliás, pretende trabalhar pela aliança de Lula com o PMDB, depois de deixar o ministério. Segundo o ministro, a legenda "agrega valor" à chapa de Lula, pois se trata de um partido com "capilaridade nacional e tempo de televisão". É o chamado "kit PMDB". O problema de Lula e Ciro é vencer a confusão pemedebista, um partido dividido entre governistas e oposicionistas em relação a Lula. Tanto quanto a disputa em torno da prévia de domingo, pesou a destituição do líder na Câmara, Wilson Santiago (PB), o descontentamento dos deputados com a primazia dos senadores nas nomeações para o governo. O ministro Saraiva Felipe (Saúde) sai na próxima semana para disputar as eleições, mas, mesmo que insistisse em ficar seria sabotado pelos deputados, que o acusam de privilegiar o Senado nas nomeações e liberações de verba federais. Devem sair na próxima semana os ministros Ciro Gomes, José Fritsch (Pesca), Agnelo Queiróz (Esportes), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Saraiva Felipe (Saúde), Alfredo Nascimento (Transportes) e o vice-presidente José Alencar (Defesa). Apesar de ter sido considerado carta fora do baralho, Alencar voltou a ser cogitado para ser mantido na chapa de Lula, apesar de haver migrado para um partido inexistente (PBR). O próprio Ciro eventualmente é sugerido para a vice de Lula, o que ficará mais difícil se a verticalização for mantida pelo STF. Oficialmente, Ciro diz que está saindo para se candidatar à Câmara. Como deve ter uma expressiva votação, algo entre 300 e 500 mil votos, acredita que ajudará o PSB a cumprir a exigência da cláusula de desempenho. Na realidade, livre para disputar em outubro, Ciro vira uma espécie de coringa no baralho, podendo concorrer a qualquer cargo. Lula pouco falou sobre eventuais substitutos, mas já ouviu e analisa a oportunidade de tirar Palocci sem dar a impressão de que rendeu-se à oposição.