Título: Oposição aperta cerco e Planalto resiste a entregar Palocci
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Política, p. A13

Crise PFL representa contra Palocci e Mattoso na Procuradoria Geral da República

Os ânimos da oposição e do governo foram acirrados, ontem, no dia mais tenso desde o vazamento do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, ocorrido na sexta-feira da semana passada. Enquanto a oposição buscava as providências jurídicas cabíveis ao caso, a coordenação política do governo, em reunião no Palácio do Planalto, decidiu partir para o enfrentamento na defesa do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Apesar das declarações nesse sentido, o núcleo da coordenação já admite a possibilidade de Palocci deixar o governo por ocasião da reforma ministerial que ocorrerá por causa da desincompatibilização dos que vão disputar as eleições deste ano, até o dia 31. Participaram da reunião Ciro Gomes (Integração Nacional), Dilma Rousseff (Casa Civil), Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), Márcio Thomaz Bastos (Justiça), além do líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP) e do PT, deputado Henrique Fontana (RS). "O consenso do grupo foi geral: a oposição não tem moral para falar de zelo democrático", disse um dos participantes. O líder do PT na Câmara, Henrique Fontana, lembrou que a oposição está repetindo a "mesma irresponsabilidade" de quatro anos atrás, quando, sob argumentos econômicos, "quase levou o país ao caos". "A CPI do Fim do Mundo está operando no limite da ilegalidade e está prejudicando o país", sublinhou o petista. Segundo um dos participantes do encontro, Palocci demonstrava tranqüilidade. Até o momento, a avaliação é de que não existem razões para que o ministro deixe o cargo. Durante a reunião, Palocci voltou a garantir que jamais esteve na Casa do Lago Sul, conhecida como "República de Ribeirão Preto", alugada pelos ex-assessores da prefeitura da cidade paulista, com o intuito de fazer lobby. "Eu posso afirmar e garantir tudo o que diz respeito à minha pessoa, não posso falar pelos outros. Eu nunca estive nesta casa", teria repetido. A CPI dos Bingos formou uma subcomissão para cobrar da Caixa Econômica Federal explicações sobre o responsável pela violação do extrato do caseiro Nildo. O PFL, também ontem, apresentou uma representação na Procuradoria Geral da República contra o presidente da CEF, Jorge Mattoso e o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O PSDB estuda caminhos jurídicos para processar ambos por crime de responsabilidade. Enquanto a oposição elevava o tom da reação no Senado, a coordenação política do governo, incluindo Palocci, avaliava, do Planalto, que PSDB e PFL "não têm moral para cobrar nada, porque também vazam informações sigilosas quando lhes convém". No meio da tarde, o advogado de Francenildo, Wlicio Nascimento, foi ao Senado entregar uma autorização do caseiro para quebrar o seu sigilo bancário, fiscal e telefônico. "Quem não deve, não teme e não treme. Estamos autorizando a quebra de algo que, na verdade, já foi quebrado. Nildo só quer deixar claro que está dizendo a verdade", reforçou o advogado. Mais cedo, o presidente da CPI, senador Efraim Morais (PFL-PB), lamentou que o governo Lula, que se diz de esquerda, tenha quebrado o sigilo de um trabalhador para defender um ministro. "Eles estão querendo desqualificar o caseiro, impediram-no de falar à CPI. Mas não importa, o que ele tinha que dizer, já disse", completou o pefelista. O Planalto avalia que a temperatura vai continuar crescendo na mesma velocidade em que Lula prosseguir subindo nas pesquisas. " Estamos vivendo uma guerra política de grandes proporções. E vamos lutar com todas as armas que estiverem ao nosso alcance", prometeu Henrique Fontana. Para Efraim, o desespero do Planalto é fruto da insegurança provocada pelo depoimento contundente de Nildo. "Eles jamais esperavam que a CPI chegasse onde chegou. Não é uma investigação contra o ministro da Fazenda. Se ele apareceu, paciência, a culpa não é minha", lavou as mãos. Acusado pelos governistas de ter "encontrado" o caseiro Nildo, o senador Antero Paes de Barros (PSDB-MS) foi incumbido pelo seu partido de analisar, com a assessoria jurídica do PSDB, como acusar Palocci e Mattoso por crime de responsabilidade. "Palocci tem responsabilidade sim. Afinal, a quem é subordinada a Caixa Econômica Federal? Sigilos são coisas sérias, só podem ser quebrados com ordem judicial", disse o tucano. É justamente na "fragilidade e na facilidade de se vazar informações" que o governo se apóia para criticar PSDB e PFL. Segundo Chinaglia, quando interessava à oposição, os sigilos bancários e telefônicos de Roberto Kursweil - dono do Ômega que teria supostamente transportado os US$ 4 milhões de Cuba doados para a campanha de Lula - e do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, foram repassados à imprensa. "Todos lembram que o depoimento do doleiro Toninho da Barcelona, que está preso, era secreto. Trechos do depoimento de Rogério Buratti ao Ministério Público foram retransmitidos quase on line por um procurador que investiga o caso", reforçou Chinaglia. O discurso do governo é de que o caso do vazamento do sigilo do caseiro será investigado. O presidente da Caixa, Jorge Mattoso, garantiu aos três senadores da CPI dos Bingos - Flavio Arns (PT-SC), Wellington Salgado (PMDB-MG) e Álvaro Dias (PSDB-PR) - que foram à sede da CEF que o mistério estará desvendado em, no máximo, 15 dias. Dias disse que Mattoso teria admitido que o tipo de extrato vazado só pode ter saído da própria instituição. Para a senadora Heloísa Helena (P-SOL-AL), o governo usa tática diversionista, já que investigações desta natureza são simples. Na tentativa de evitar suspeitas sobre a atuação da Polícia Federal nas investigações sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pediu, ontem, ao procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, a indicação de procuradores para acompanhar o caso. Ele informou ao ministro que dois procuradores já haviam sido sorteados já que o processo de investigação da quebra de sigilo do caseiro (uma "notícia-crime") já havia dado entrada através de dois ofícios - um do PPS e outro do caseiro. Foi instalado um procedimento administrativo criminal e designados os procuradores Livia Tinôco e Gustavo Pessanha. (Colaborou Juliano Basile, com agências noticiosas)