Título: Etiquetas com chips chegam às aplicações comerciais
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Empresas &, p. B2

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As prateleiras do supermercado avisam automaticamente os funcionários quando um produto está em falta ou é depositado no local errado. Da mesma forma, é possível inspecionar a data de validade de qualquer item sem movê-lo da estante. O carrinho repleto de mercadorias passa por um sensor e todas as compras são contabilizadas sem necessidade de retirá-las para a efetuar a leitura do código de barras. Na pacata Rheinberg, uma cidadezinha próxima a Düsseldorf, na Alemanha, tudo isso já é realidade. É lá que a Metro, terceira maior rede varejista do mundo, mantém a "Loja do Futuro", uma unidade em que as novas tecnologias pesquisadas pela empresa são testadas em condições mais próximas da realidade. A maioria das facilidades que o supermercado proporciona deve-se ao uso de identificação por rádio freqüência, ou RFID, uma tecnologia em que um chip que se comunica por sinais de rádio é fixado nas etiquetas das mercadorias. A partir daí, os produtos podem estocar uma enorme quantidade de informações - do preço à data de validade, passando por sua origem - e transmiti-las sem a necessidade de contato físico. O RFID não é propriamente uma novidade, mas a grande dúvida para quem investe nessas "etiquetas inteligentes" é saber quando a tecnologia deixará o status de eterna promessa restrita a exibições de marketing e projetos-piloto. Em 2006, alguma iniciativas importantes evidenciam que as aplicações comerciais finalmente podem estar começando a amadurecer. O principal termômetro disso é onde o chip é empregado. A maioria dos projetos em andamento usa as etiquetas inteligentes em paletes. O objetivo da indústria é descer na escala de tamanho para caixas e, depois, chegar a ter um chip em cada produto individualmente, quando tudo o que a Metro exibe na Loja do Futuro poderá tornar-se realidade. Um passo importante será dado pela própria varejista dentro de poucos meses. Em parceria com um conjunto de empresas de tecnologia, que incluem a IBM, Intel, SAP, Siemens e T-Systems, a Metro já emprega a tecnologia em paletes que chegam aos seus centros de distribuição na Europa, o que permite melhorar o controle dos estoques. Em meados deste ano, a empresa passará a usar regularmente o RFID nas caixas de diversos produtos, ampliando significativamente a quantidade de etiquetas. Outra iniciativa importante envolvendo RFID ocorre no Brasil. A HP escolheu o país como piloto mundial para uso da tecnologia, que é empregada na fabricação de equipamentos do setor de imagem e impressão na fábrica de Sorocaba (SP). O projeto consumiu mais de US$ 2 milhões em investimentos e conta com a T-Systems, que auxilia a Metro na Alemanha, entre seus parceiros. Segundo Kami Saidi, diretor de operações da HP para o Mercosul, até abril a companhia usará o RFID não apenas em paletes ou caixas, mas em cada produto que sair da fábrica brasileira. No total, mais de 2,5 milhões de impressoras, copiadoras e multifuncionais montados anualmente no país terão uma etiqueta inteligente. "Usar o RFID em cada item é algo que a maioria das empresas só pensa em fazer dentro de muitos anos, mas vamos começar agora", diz Saidi. Com isso, a HP terá controle de cada unidade fabricada, o que facilita o trabalho de suporte técnico e reciclagem dos equipamentos, já que as informações individuais das máquinas estarão contidas no chip. "Estamos nos antecipando e adquirindo conhecimento. Daqui a três anos, quando uma empresa que hoje não investe em RFID decidir que precisa da tecnologia, ela não terá condições de implementá-la do dia para a noite." O projeto da HP só é possível porque envolve produtos relativamente caros e complexos. Ter uma etiqueta inteligente em cada item da prateleira de um supermercado, no entanto, é algo que ainda deve demorar de dez a 20 anos para acontecer. Além do investimento para montar a infra-estrutura tecnológica que permite ler, processar e armazenar os dados contidos nos chips, o custo das etiquetas inteligentes, embora venha caindo, ainda é dezenas de vezes maior do que a de um código de barras. Mas os ganhos obtidos no controle da cadeia de suprimentos e na gestão de estoques devem seduzir as grandes redes varejistas. Hoje, quando um caminhão com mercadorias chega a um centro de distribuição, os produtos são contabilizados e guardados manualmente. Com RFID, a empresa sabe automaticamente o que está chegando ao armazém e os sinais de rádio indicam para as empilhadeiras onde depositar cada caixa. O processo é mais rápido e menos sujeito a erros. Quando os varejistas estiverem prontos, eles pressionarão os fornecedores dos produtos a munir cada caixa ou item com as etiquetas inteligentes, disparando uma corrida pela tecnologia - pelo menos, é isso que as empresas de TI que estão se credenciando para vender projetos com identificação por radiofreqüência esperam. "O verdadeiro boom acontecerá quando o RFID for adotado em massa pelas redes de fornecimento dos grandes varejistas", diz Kurt Rindle, cientista-chefe do grupo de tecnologias emergentes da IBM na Alemanha. Segundo Rindle, a Big Blue investirá mundialmente US$ 250 milhões no desenvolvimento do RFID até 2010, quando espera já estar lucrando com projetos de identificação por rádio freqüência. No Brasil, as principais redes varejistas, incluindo Pão de Açúcar, Carrefour, Wal Mart e Casas Bahia rodam projetos pilotos com RFID, afirma Carlos Conti, diretor-geral para o Cone Sul da americana Intermec, especializada em desenvolvimento e integração de tecnologias de captura de dados. A empresa, que fatura cerca de US$ 900 milhões, está inaugurando um centro em Itajubá (MG), que no futuro será transformado em uma fábrica para computadores de mão com capacidade de ler códigos de barra e etiquetas inteligentes. "Este ano será marcado pelo movimento de projetos de RFID saindo da fase piloto para as aplicações reais", afirma Conti. (RC)