Título: Estrangeiro compra mais títulos
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Finanças, p. C1

A Medida Provisória (MP) 281, que isentou de Imposto de Renda e de CPMF os investimentos estrangeiros em títulos públicos, já teve seus primeiros efeitos positivos sobre o fluxo de capitais em fevereiro, com ingressos líquido de US$ 1,811 bilhão. A vantagem tributária somou-se a outros fatores de que engrossaram as entradas de dólares na conta de capitais no mês, como as captações de empresas privadas e os investimentos em Bolsa de Valores. Embora MP 281 tenha sido publicada apenas em 16 de fevereiro, foi suficiente para aumentar as aplicações de estrangeiros em títulos negociados dentro do país. Os investimentos líquidos em papéis de médio e longo prazo (mais de um ano) somaram US$ 1,176 bilhão no mês, e as aplicações em instrumentos de curto prazo, US$ 636 milhões. Em fevereiro de 2005, a soma de investimentos em títulos de curto e longo prazo havia sido de apenas US$ 158 milhões. Os dados do BC sugerem que, embora os investidores estejam comprando preferencialmente títulos longos, a administração das carteiras segue a lógica de aplicações de curto prazo. O investimento líquido de US$ 1,176 bilhão em papéis de longo prazo é formado, de um lado, por ingresso de US$ 1,851 bilhão e, de outro, saída de US$ 675 milhões. Em fevereiro, aprofundaram-se também os investimentos estrangeiros em ações, que somaram liquidamente US$ 1,7 bilhão, ante US$ 1,095 em janeiro. "A quase totalidade desses investimentos esta sendo feita em bolsas dentro do país", observa o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. A MP 281 e os altos investimentos em ações levaram o BC a aumentar, de US$ 4 bilhões para US$ 10 bilhões, sua projeção para os investimentos estrangeiros em portfólio em 2006. O BC não abre, nas suas previsões, quanto desse ingresso será dirigido a renda fixa nem quanto irá para renda variável. Mas, ao anunciar a isenção, o Tesouro estimou em cerca de US$ 5 bilhões o fluxo líquido ao país. Lopes ponderou que não devem se repetir altos ingressos líquidos como os verificados em fevereiro, pois os investidores deverão fazer o giro das carteiras. "Haverá tanto ingressos quanto saídas." A conta de capitais está vivendo um momento de fartura de dólares também porque as empresas privadas voltaram a captar no exterior. Em fevereiro, suas captações chegaram a US$ 2,431 bilhões, o que equivale a 687% dos vencimentos no período, que somaram US$ 354 milhões. Os dados parciais de março, que cobrem até o dia 21, indicam taxa de 215%, num levantamento que inclui parte do setor público, excluindo bônus da República. O maior apetite por captações levou o BC a contemplar, nas suas projeções do balanço de pagamentos, a hipótese de que 100% dos vencimentos de papéis e empréstimos diretos serão renovados. Antes, a expectativa era de 70%. Todos esses ingressos de capitais em fevereiro foram decisivos para que a conta financeira de mercado registrasse superávit de US$ 6,4 bilhões, que se somou ao superávit de US$ 700 milhões em conta corrente, na contabilidade que exclui operações do governo. Desse total, o BC absorveu US$ 2,4 bilhões, e os bancos, US$ 4,7 bilhões. (AR)