Título: Brasil volta a registrar superávit
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Finanças, p. C1

Contas Externas Remessas de lucros e dividendos caem; BC prevê saldo de US$ 8,6 bi no ano

O país voltou a registrar um vigoroso superávit em conta corrente em fevereiro, de US$ 725 milhões, afastando, pelo menos temporariamente, os receios de que as contas externas estivessem registrando uma virada. No mês anterior, havia ocorrido um déficit de US$ 452 milhões, o que levou alguns observadores econômicos a fazerem previsões pessimistas para este ano. Naquele mês, o fraco desempenho nas contas externa se deveu às volumosas remessas de lucros e dividendos, que chegaram a US$ 1,540 bilhão. Em fevereiro, porém, verificou-se uma certa acomodação nesse grupo de despesa, que somou US$ 829 milhões. Os dados parciais de março, que cobrem até o dia 21, confirmam esse arrefecimento, com saídas de US$ 508 milhões. "Os números mostram uma certa acomodação nas remessas de lucros e dividendos, mas será necessário esperar alguns meses para confirmar se essa é uma tendência que veio para ficar", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes. Ao contrário do mercado financeiro, que vem acompanhando os dados de perto para checar se há uma virada nas contas externas, o BC não mostra surpresa com os números. A expectativa inicial da autoridade monetária era que o superávit em conta corrente, que chegou a US$ 14,199 bilhões em 2005, ou 1,79% do Produto Interno Bruto (PIB), caísse para US$ 6,1 bilhões em 2006, em virtude da redução do saldo comercial de um ano para o outro. Dessa forma, a demanda externa abriria espaço para maior expansão da demanda interna da economia. Mas os números coletados até agora estão se saindo melhores do que a encomenda, o que fez com que o BC elevasse sua expectativa de superávit em conta corrente para US$ 8,6 bilhões. Para março, por exemplo, é esperado saldo de US$ 1,8 bilhão, levemente superior ao US$ 1,703 bilhão observado no mesmo mês de 2005. A melhora do superávit em conta corrente se deve, fundamentalmente, à perspectiva de um saldo comercial mais alentado (US$ 39 bilhões) do que o antes previsto (US$ 35,5 bilhões). De qualquer forma, o BC vê um saldo menor do que os US$ 44,757 bilhões de 2005. O superávit em fevereiro se deve ao saldo comercial de US$ 2,822 bilhões e ao déficit de US$ 2,353 bilhões no balanço de serviços, formado por fluxo negativo de US$ 567 milhões nos serviços (turismo, transportes, aluguel de equipamentos etc.) e de US$ 1,769 bilhão em rendas (pagamentos de juros, lucros, dividendos, salários etc). A conta corrente fecha com transferências unilaterais (movimento de recursos sem vínculo comercial ou financeiro, principalmente de emigrantes) com ingressos de US$ 256 milhões no mês.