Título: Dólar e juros sobem com "efeito Bernanke"
Autor: Cristiane Perini Lucchesi
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Finanças, p. C2

O discurso de Ben Bernanke, presidente do Fed - banco central americano -, anteontem, provocou uma revisão geral nos preços dos ativos nos Estados Unidos e no Brasil. A expectativa agora é de que o Fed poderá aumentar os juros básicos americanos para além dos 4,75% ao ano. Antes do discurso, o mercado apostava que nos dias 27 e 28 o Fed aumentaria em mais 0,25 ponto percentual as taxas dos chamados "fed funds", de 4,5% hoje, e pararia por aí. Agora, mais investidores passaram a acreditar que a elevação nos juros americanos vai continuar depois disso. Contribuiu para ampliar essa expectativa a divulgação do índice de preços do atacado nos EUA (PPI), de 0,3% em fevereiro, que ficou acima do esperado. Juros mais altos nos Estados Unidos significam interesse menor dos investidores externos por retorno em títulos ou ações de outros países, como o Brasil. Não foi à toa que o dólar subiu ontem, para R$ 2,1740. No dia, a alta foi de 1,07%, acumulando 3,03% em três dias de valorização consecutiva. No ano, a moeda americana mantém desvalorização, de 6,49%. O mercado de juros mostrou nervosismo, com os contratos futuros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros apresentando alta nas taxas projetadas. O contrato de vencimento em janeiro de 2008, o mais negociado, passou de 14,517% ao ano para 14,696% ao ano. O risco-Brasil ficou estável, em 228 pontos básicos.

O impacto mais imediato do discurso de Bernanke foi nos juros dos títulos do Tesouro americano. Os papéis de vencimento em dois meses tiveram alta de 0,07 ponto percentual nas taxas, para 4,72% ao ano. Os títulos de vencimento em dez anos também tiveram aumento de juros, de 0,06 ponto percentual, para os mesmos 4,717% ao ano. Mas, em encontro no Clube de Economia de Nova York, Bernanke disse que a redução na diferença entre os juros de curto e de longo prazo pode estar refletindo o nível de confiança dos investidores na economia dos Estados Unidos e não indicar o prenúncio de uma recessão, como avaliam analistas. Ele afirmou não estar percebendo, neste momento, "a aproximação de um desaquecimento significativo da economia" americana e disse estar pouco preocupado, também, com a situação financeira dos consumidores. Para Bernanke, o aumento nos empréstimos vinculados ao setor imobiliário, que passou por um "boom" nos últimos cinco anos, "pode não ser um problema particularmente grave", pois as famílias trocaram empréstimos mais caros pelas hipotecas. "A riqueza aumentou", disse Bernanke, segundo a "Bloomberg". "As famílias avançaram muito na reestruturação de seus compromissos financeiros", afirmou ele.