Título: EDC planeja conceder empréstimos em reais
Autor: Francisco Góes
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, Finanças, p. C8

Linhas Externas Agência canadense quer aumentar negócios no Brasil

A Export Development Canada (EDC), banco de apoio aos investidores e às exportações canadenses, vai começar a financiar empresas no Brasil em reais. O financiamento em moeda local busca aumentar os negócios da EDC no país, que totalizaram 1,1 bilhão de dólares canadenses em 2005 (US$ 880 milhões). A iniciativa também beneficiará empresas que não são exportadoras e têm receitas e despesas em reais. Os alvos são os setores de infra-estrutura e energia. "Os empréstimos em moeda local vão abrir maiores oportunidades para a EDC. É uma medida importante para nós e para as empresas porque hoje, para muitas companhias no Brasil, é muito difícil tomar risco em dólares americanos", diz Robert Wright, presidente da EDC. O tema vem sendo analisado há algum tempo dentro do banco governamental canadense e a estabilidade macroeconômica do Brasil contribuiu para levar adiante a implementação da medida, diz Wright. "A estabilidade da moeda e do contexto macroeconômico em ano eleitoral são um verdadeiro sinal de maturidade", afirma Wright. Ele diz que o financiamento em reais é um grande passo para a EDC - até hoje o banco só fez uma pequena operação do gênero na Polônia -, porque, ao financiar uma empresa em moeda local, a agência aceita correr certos riscos. Por outra parte, a operação demonstra a confiança da EDC no futuro do país, diz. No cargo há um ano, Wright está no Brasil para encontros com empresários e autoridades. Hoje ele terá reunião de trabalho com investidores canadenses, em São Paulo. Amanhã, em Brasília, se encontrará com representantes do Banco Central, do Banco do Brasil e do Ministério da Fazenda, entre outros, em recepção na Embaixada do Canadá. Haverá ainda audiência com o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Cláudio Escobar, diretor da EDC para o Brasil e Cone Sul, diz que o financiamento em moeda local vai de encontro aos interesses do país em setores-chave, entre os quais infra-estrutura e energia. A questão para a EDC é identificar qual é o melhor caminho para apoiar os investidores e exportadores canadenses. O empréstimo em reais poderá ser dado a um investidor canadense no Brasil ou a uma empresa brasileira interessada na compra de bens e equipamentos do Canadá. Para viabilizar essas operações, a EDC deverá estabelecer acordo com banco comercial no Brasil. Também poderá captar recursos em reais para emprestar às empresas. Outra alternativa é usar recursos próprios da agência, que, em 2005, teve lucro de 1,3 bilhão de dólares canadenses (US$ 1 bilhão). No total, a EDC apoiou negócios por 60 bilhões de dólares canadenses no ano passado (US$ 48 bilhões), incluindo financiamentos, seguro de exportação, garantias e seguro de risco político nos países onde atua. O total de financiamentos concedidos ficou em 5,2 bilhões de dólares canadenses (US$ 4,1 bilhões), abaixo de 2004. Cerca de 13 bilhões de dólares canadenses (US$ 10,4 bilhões) corresponderam a operações nos mercados emergentes, considerando os diferentes instrumentos de apoio usados pelo banco. O principal mercado emergente para a EDC, em termos de desembolsos, é a China, seguida do México e do Brasil, em terceiro lugar. Índia e Rússia vêm a seguir. O 1,1 bilhão de dólares canadenses desembolsado no Brasil, em 2005, envolveu operações com 175 exportadores canadenses com investimentos e vendas no mercado brasileiro. Wright avalia que cada um dos Brics (sigla usada para designar Brasil, Rússia, Índia e China) oferece riscos e oportunidades diferentes. "Como Bric (país com grande potencial de crescimento), o Brasil tem de pensar o que os outros países deste grupo estão fazendo. E eles estão crescendo muito rápido. Então cabe ao setor privado e ao governo, no Brasil, perguntar o que deve ser feito para que o país seja um player internacional", diz Wright. Ele aponta os setores de óleo e gás, mineração, papel e celulose, além de telecomunicações, infra-estrutura, energia e meio ambiente, como as áreas com maior potencial de desenvolvimento de negócios para a EDC nos próximos anos.