Título: Tesouro Direto, fundo ou CDB?
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 22/03/2006, EU &, p. D1

Estudo revela que a compra direta de títulos públicos via internet é a melhor alternativa de aplicação para o investidor de varejo

Fundos de investimento, Certificado de Depósito Bancário (CDB) ou títulos públicos comprados via Tesouro Direto? Muitos investidores podem ainda não ter parado para analisar qual a melhor alternativa para a parcela mais conservadora da carteira, que no caso de muitos aplicadores pode até representar todo o portfólio. Com uma taxa básica de juro tão atrativa por um período tão longo, muitos brasileiros não comparavam as alternativas e optavam pelo instrumento mais prático e acessível. Mas com a perspectiva de queda no juro, a tendência é que as opções passem a ser avaliadas mais de perto. Um estudo recém-concluído por uma dupla de pesquisadores do Ibmec se propõe a oferecer algumas reflexões sobre o tema para ajudar os investidores. Segundo Antonio Marcos Duarte Jr, diretor acadêmico do Ibmec e um dos autores do trabalho, para observar qual a melhor alternativa entre CDBs, títulos do Tesouro Direto e fundos, o estudo usou uma divisão por três segmentos de investidores: varejo, alta renda e private. O estudo engloba de janeiro de 2002 a março de 2005. "No primeiro grupo, do varejo, praticamente em todas as hipóteses que testamos, a compra direta de títulos aparece como opção mais interessante, mesmo nos níveis de taxa de custódia mais altas cobradas pelo mercado", diz Duarte, que elaborou o estudo em parceria com outro pesquisador, Luis Otávio dos Santos. Duarte recomenda ao investidor de varejo que invista um pouco do seu tempo para tentar entender melhor o funcionamento do Tesouro Direto. "Embora possa parecer um pouco complicado, vale a pena", avalia ele. No entanto, recomenda cautela quando o período previsto para resgate é inferior a um ano e meio. Para ampliar os ganhos, é preciso ficar atento a detalhes como taxas de administração e custódia e oportunidades que surgem no mercado de títulos. As comparações mostram que, de janeiro de 2002 até maio de 2005, o ganho acumulado do fundo de pior performance no varejo foi de 37,16% enquanto o maior ganho foi de 51,53%. Já entre os títulos, aqueles com vencimento para 2006 e 2007 renderiam cerca de 60% no mesmo período. Já um CDB a 80% do CDI renderia, segundo o estudo, 48,59% no período. Essa análise foi feita para o segmento de varejo. "Já na outra ponta, para os clientes do segmento premium (chamado de 'private' pelos bancos), o Tesouro só tem alguma competitividade com CDB e fundos, quando a taxa de custódia é zero", explica Duarte. O pesquisador assinala que os resultados indicam que os fundos, no caso desses clientes a gestão realmente parece ser diferenciada e agrega valor. Nas simulações feitas para o segmento premium, fundos com melhor performance chegam a oferecer ganho de 113,95% no período. A performance dos fundos médios ficou em 62,46%. Já os CDBs a 99% do CDI renderiam 64,09% e as LFTs com taxa de custódia zero com vencimento em 2006 geraram ganhos de 65,05%. O trabalho aponta que, dependendo da faixa de aplicação na qual cada investidor está inserido, a taxa pode se tornar um fator ainda mais determinante na escolha. "No caso do segmento intermediário, dos clientes que não são varejo, mas que não chegam a ser private, as taxas são ainda mais decisivas para escolher a melhor opção." Para os investidores da faixa preferencial (o de alta renda), os melhores fundos tiveram ganho de 61,54% enquanto os fundos com performance mediana ofereceram 56,8%. Os CDBs a 99% do CDI renderam 64,09% e as LFTs com vencimento para 2006 ofereceriam ganho de 65,05% se não houver a taxa de custódia. Já com uma taxa de custódia de 1% o ganho cai para 60,17% no período. Os fundos de varejo e preferenciais foram selecionados entre aqueles de maior patrimônio e melhor rentabilidade (excluídos os de ações) entre os dez maiores administradores. Foram considerados de varejo aqueles com aplicação até R$ 1 mil e preferenciais, os fundos com aplicação de até R$ 200 mil. Os fundos premium foram selecionados entre os que são oferecidos para clientes private pelos bancos, com lastro em títulos de renda fixa. Os CDBs foram divididos em duas categorias, aqueles que pagam cerca de 80% do CDI, geralmente oferecidas aos clientes com aplicação de pelo menos R$ 1 mil. E os CDBs que oferecem cerca de 99%, disponíveis para clientes com aplicação de pelo menos R$ 200 mil, segundo o trabalho. O prazo de cada CDB foi de um ano. Com relação ao Tesouro Direto, foram analisadas as LFTs disponíveis para compra no período estudado. Foram estipuladas três faixas médias de taxa de custódia para fins de comparação: 0% (a menor encontrada pelos pesquisadores); 0,5% (taxa mais freqüente) e 1% (maior taxa encontrada). "O horizonte de investimento é um aspecto relevante, que sempre deve ser analisado", diz Duarte. "Como no caso do Tesouro Direto, há custos que incidem no começo, é mais interessante para quem deixa aplicado por período superior a um ano e meio", lembra ele. Para períodos menores, o estudo avalia que CDBs e fundos podem se tornar opções melhores. "Em prazo de até um ano, os CDBs se mostraram boa alternativa pois não incorrem nos custos iniciais do Tesouro Direto e não recolhem IR come-cotas", diz o trabalho. No entanto, é preciso lembrar que os CDBs oferecem um risco de crédito do banco emissor. Os especialistas lembram ainda que as taxas oferecidas nos CDBs podem ficar mais atrativas de acordo com o apetite de captação dos bancos.