Título: Atalho na educação
Autor: Magalhães, Camila de
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2010, Brasil, p. 14

sociedade

Pesquisa mostra alta procura por cursos profissionalizantes no DF, mas jovens da cidade buscam também o ensino superior

O Distrito Federal é a unidade da federação com a maior proporção (31,13%) de pessoas com algum curso profissionalizante, seja de qualificação profissional, técnico de nível médio ou tecnólogo graduação de dois a três anos. Em segundo lugar está o Paraná, com 28,07%, seguido do Rio Grande do Sul, com 25,92%. Na outra ponta da tabela, estão Alagoas (7,69%), Pernambuco (11,31%) e Maranhão (12,64%). Os dados são da pesquisa A educação profissional e você no mercado de trabalho, divulgada ontem pela Fundação Getulio Vargas, com apoio do Instituto Votorantim. Segundo o levantamento, os melhores salários para quem tem esses cursos no currículo também estão no DF. Por outro lado, a capital federal aparece apenas em 12º lugar quando se trata de pessoas que já trabalharam ou trabalham na área em que acabaram se especializando.

Na avaliação de Cláudio Tavares, gerente de formação profissional do Senai-DF, a grande procura por esses cursos se dá em função da vontade se inserir no mercado de trabalho rapidamente. Ele afirma que os grandes empregadores da região são o comércio, com poucas vagas, e o serviço público, em que o ingresso ocorre por meio de concurso público. Para entrar em outro ramo de atividade, como construção civil, informática, tecnologia da informação, alimentação e manutenção, é preciso mão de obra qualificada.

Mas o que se verifica por aqui, diz Tavares, é o aperfeiçoamento da formação. Depois de conseguir o dinheiro e a capacitação, os olhares se voltam novamente para a educação formal. Diferentemente das outras unidades da Federação, aqui as pessoas continuam estudando. Elas adquirem o ensino médio ou a graduação e mudam o foco, observa o gerente.

São os planos, por exemplo, do estudante Ezequiel Chagas do Nascimento, 21 anos. Ele fez um curso técnico de informática assim que terminou o nível médio. De olho no grande número de obras em Brasília, o jovem agora se dedica ao curso técnico em edificações, o mais procurado no Senai em 2009. Por conta da qualificação, já conseguiu um estágio na área de construções da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb), onde trabalha com um software que desenvolve plantas de projetos.

A ideia é aproveitar a prática como diferencial para quando ingressar numa faculdade de arquitetura e urbanismo. No Brasil, há um certo preconceito. As pessoas acham que só o status de ensino superior é o que vale, mas não é assim. O curso técnico é bastante valorizado, insere você no mercado de forma mais fácil e dá um respaldo grande para, mais tarde, você entrar num curso superior, pondera. No ano passado, o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) contabilizaram 39.469 e 12.327 matrículas, respectivamente.

Apagão de mão de obra

A procura por qualificação profissional ainda é insuficiente para a demanda do país. O estudo divulgado pela FGV mostra que o Brasil vive um apagão de mão de obra, com quantidade e qualidade de trabalhadores aquém das desejadas. Mas a expectativa é mudar esse quadro. Os dados apontam para uma queda de 7,3% no número de jovens de 18 a 24 anos em instituições de ensino formal: de 7,5 milhões para 6,9 milhões entre 2006 e 2008. O professor Marcelo Neri explica que a maior atração dos estudantes pelo mercado de trabalho os afasta da escola.

Resultado disso é crescimento da busca por cursos profissionalizantes nas grandes metrópoles, que quase dobrou nos últimos anos. De 2004 a 2010, a porcentagem da população que concluiu esses cursos passou de 12,56% para 22,05%. Quem os tem no currículo sai na frente dos que não têm em vários aspectos, como inserção no mercado, formalização e salários melhores.

Mais disputadas Segundo a pesquisa, a chance de emprego para uma pessoa com formação profissional concluída é 48,2% maior do que quem nunca fez esses cursos. A chance de formalização também aumenta entre os ocupados: 38% a mais. Os salários são 12,94% melhores para aqueles com educação profissional. O aumento torna-se mais significativo após a conclusão dos cursos: chega a 27% na formação de tecnólogo e a 17% em ensino médio profissionalizante.

Turismo aparece como a área com maior percentual de trabalhadores que já frequentaram cursos profissionalizantes. A presença desse tipo de formação representa 53,49%. Na lista das cinco ocupações mais comuns, também aparecem tecnologia da informação (39,93%), contabilidade e auditoria (39,46%), farmácia e enfermaria (39,42%) e recursos humanos (38,87%). Na parte inferior do ranking, biologia e agronomia (22,05%), psicologia (23,67%) e comércio (24,76%). Em todas elas, os adeptos da educação profissional representam menos de um quarto das ocupações.