Título: Mantega vê condições para "crescimento sustentado"
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Brasil, p. A3

Em amostra prévia do que deve ser o discurso de campanha governista nas próximas eleições presidenciais, o presidente do BNDES, Guido Mantega, abrandou as críticas às políticas monetária e fiscal conduzidas pelo Ministério da Fazenda e comemorou as condições criadas pela política econômica para "um ciclo sustentado de crescimento" nos próximos anos, em seminário promovido pelo Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social. No evento, o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, defendeu o papel da estatal como instrumento do governo para promoção do crescimento. "Estamos apenas iniciando o ciclo de crescimento, ainda não é uma coisa sólida. Depende da continuidade das políticas sociais e ajustes que venham a ser feitos na política econômica", disse Mantega. Esclareceu depois que, por ajustes, se referia a uma "sintonia fina" na taxa de juros e controle das contas públicas. Mantega, que se opôs às sucessivas elevações nas taxas de juros, negou, porém, que os elogios à eficiência da política econômica sejam uma autocrítica. "Dizer que a política econômica foi acertada de um modo geral não quer dizer que não tenha havido equívoco , mas foram questões pontuais", comentou. "Principalmente na política monetária, acho que houve no passado um excesso de zelo, que está sendo consertado". Mantega comemorou o aumento recorde do nível de emprego formal em fevereiro. Em uma das comparações feitas com o governo anterior, o presidente do BNDES lembrou que a gestão de Fernando Henrique Cardoso resultou na criação de 800 mil empregos, em oito anos, enquanto que, nos três anos do atual governo o número de empregos com carteira aumentou em 3,7 milhões. Entre 1998 e 2003, o PIB cresceu 1,5% em média, a produtividade caiu 0,52% e a indústria de transformação cresceu apenas 0,84%, citou o presidente do BNDES, para comparar com o crescimento econômico de 3,59% entre 2004 e 2005, e de 4,45% na indústria e de 4% na produtividade, nesse mesmo período. Mantega justificou o "esforço fiscal e monetário" - que criticou nos últimos meses, nas reuniões de governo - como necessário para "puxar" para baixo a inflação de 14%, registrada no primeiro ano de governo. Mantido o desempenho das contas externas, o Brasil poderá elevar as reservas em moeda estrangeira, dos atuais US$ 59 bilhões, para até US$ 80 bilhões no fim do ano, prevê Mantega. Ele foi cauteloso ao falar da expectativa de redução nas taxas de juros. "Um patamar razoável seria 3% ou 4% de juros reais , mas não dá para alcançar isso imediatamente." Mantega questionou as análises que indicam queda na taxa de investimento do governo, com tabelas em que mostrava os gastos do Orçamento federal somados aos das estatais, como a Petrobras. "Nunca as estatais fizeram tanto investimento quanto nos últimos três anos.". Os investimentos estatais, em 2005, somaram, segundo o BNDES, US$ 1,5 bilhão, mais que os US$ 1,3 bilhão que foram, em 2002, o limite máximo no governo anterior. Os investimentos do Orçamento federal somaram US$ 1 bilhão, só superados pelo Orçamento de 2001, quando foi destinado US$ 1,2 bilhão à rubrica. Apesar dos elogios à política econômica, o presidente do BNDES não abandonou a disputa com o secretário do Tesouro, Joaquim Levy, a quem acusa de ter se equivocado ao atribuir ao salário mínimo a maior responsabilidade pelo aumento dos gastos públicos em 2005. Levy divulgou cálculos segundo os quais 80% do aumento dos gastos públicos se deveram ao impacto do aumento do salário mínimo sobre os benefícios pagos pelos programas de assistência do governo e pela Previdência Social Mantega diz que os cálculos desconsideram outros fatores que afetaram as contas públicas. "Ele não fala do esqueleto", acusa Mantega, que classifica de "esqueleto" escondido nas contas a dívida de US$ 12 bilhões criada pelo não-pagamento de reajuste de 30% às aposentadorias, em 1994, e que foi garantido pela Justiça aos aposentados em 2004 e 2005. (SL)