Título: Decisão inviabiliza aliança de Lula com o PMDB
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A8

A manutenção da regra da verticalização deve levar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a disputar a reeleição sem uma aliança que lhe assegure maioria formal para governar, a partir de 2007, na hipótese de vencer as eleições. A decisão tomada ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF) praticamente inviabiliza uma coligação do PT com o PMDB para reeleger Lula. O pemedebistas eram a principal alternativa do presidente para ampliar alianças fora do tradicional núcleo de siglas à esquerda, como o PCdoB e o PSB, e dos times do mensalão (PTB, PP e PL) pela direita. O PMDB era a aliança prioritária de Lula: além de um charme já bastante roto de um dia ter combatido a ditadura militar, o partido tem o que os políticos chamam de "capilaridade nacional", um bom naco do tempo de rádio e televisão no horário gratuito, um nome (Nelson Jobim, presidente do STF) capaz de dar um gás a Lula na região Sul do país e uma grande bancada de deputados federais, que deve repetir em 2007 e que poderia livrar Lula das alianças pouco heterodoxas a que teve de recorrer para ter maioria no Congresso. Apesar das cenas explícitas de fisiologismo e patrimonialismo recorrentes no PMDB, avalia-se no governo e no PT que uma aliança formal já em 2003 com os pemedebistas, como queria o ex-ministro José Dirceu, poderia ter evitado a relação promíscua a que o Planalto se dedicou com partidos com os quais nunca teve a menor identificação. Para o PMDB, um partido de raízes regionais, a verticalização é uma camisa de força que lhe ameaça a sobrevivência. O mais provável agora é que fique sem candidato a presidente da República, de modo a que possa estabelecer a aliança mais conveniente em cada Estado. Para ter a sigla oficialmente em seu palanque, agora, Lula teria que pagar um preço que talvez não tenha condições de pagar. Em quatro dos seis Estados (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Pernambuco e Distrito Federal) em que elegeu o governador em 2002, o principal adversário do PMDB, nas próximas eleições, é o PT. Com menor intensidade, isso ocorre também no Rio de Janeiro (Rosinha Matheus) e Paraná (Roberto Requião). Lula só dispõe do o apoio dos governadores que aderiram ao PMDB depois de eleitos: Marcelo Miranda (TO), Paulo Hartung (ES) e Eduardo Braga (AM). Para viabilizar uma aliança, Lula teria de tirar candidatos do PT, país afora, a ferro e fogo. Difícil até mesmo em São Paulo, onde o preço a pagar seria o PT apoiar Orestes Quércia ao Senado, em detrimento de Eduardo Suplicy, que está desgastado no partido. Aliás, quando o fim da verticalização era discutido no Congresso, o PT votou contrário ao projeto, que, por outro lado, teve o apoio de Lula. Com a verticalização, até mesmo aliados tradicionais de Lula podem desta vez ficar de fora da chapa presidencial. É o caso do PSB. Vez por outra o ministro Ciro Gomes (Integração Nacional) é citado como bom nome para a vice de Lula. O ministro já disse que sai candidato a deputado federal para ajudar o PSB a cumprir a cláusula de desempenho. Há quem ache que ajudaria mais sendo candidato a presidente.