Título: Baixo quórum no plenário da Câmara livra deputado do PL de cassação
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sergio Leo e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A12

O deputado Wanderval Santos (PL-SP) foi absolvido na noite de ontem das acusações de envolvimento com o pagamento de mesada a parlamentares pelo PT e com o valerioduto. Pela primeira vez, durante toda a crise do mensalão, o político acusado de irregularidades não venceu a votação no plenário da Câmara mas ainda assim escapou da punição com a perda de mandato. Pela cassação, votaram 242 deputados contra 179 que optaram pela absolvição. Eram necessários 257 sufrágios para Wanderval ser cassado. O parlamentar do PL foi absolvido por dois motivos principais. O primeiro e mais contundente foi a falta de quórum no plenário da Câmara somado ao elevado número de abstenções (20) e votos em branco (3) da votação. Participaram do julgamento de Wanderval apenas 444 deputados - 69 estavam ausentes. O desinteresse era tão grande que o líder da minoria, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), pediu o adiamento da segunda rodada de julgamento da noite de ontem, quando seria analisado o pedido de perda de mandato de João Magno (PT-MG). "Julgar com esse quórum não me parece ser favorável à imagem da Casa", protestou Aleluia. O deputado pefelista fez a reivindicação ao presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), que rejeitou o apelo. Perto das 22h00, quando o painel eletrônico registrava a presença de 343 deputados, o plenário iniciou a votação de um requerimento do PFL, pedindo o adiamento da discussão da representação contra Magno por duas sessões. O requerimento foi rejeitado. Houve também uma troca de apoio entre petistas e a bancada evangélica. Os petistas ajudariam no julgamento de Wanderval e conseguiriam apoio para livrar Magno. O PP - expoente dos acordões até agora na crise do mensalão - não participou do acordo. Depois da cassação de Pedro Corrêa (PE) na última semana, o partido decidiu não dar ajuda a mais ninguém. "Hoje nós vamos para o pau", disse o cacique do PP, usando gíria comum entre os parlamentares quando falam de votações realizadas sem acordo prévio. Wanderval foi o sexto deputado absolvido pelo plenário da Câmara até agora. Já haviam se livrado da perda do mandato os deputados Sandro Mabel (PL-GO), Pedro Henry (PP-MS), Roberto Brant (PFL-MG), Professor Luizinho (PT-SP) e Romeu Queiroz (PTB-MG). Apenas Roberto Jefferson (PTB-RJ) e José Dirceu (PT-SP), além de Pedro Corrêa, foram cassados. Chico Alencar (P-SOL-RJ), relator do processo contra Wanderval, havia pedido a cassação do colega pelo recebimento de R$ 150 mil, sacados por um assessor do parlamentar no Banco Rural, em Brasília. O deputado carioca condenou Wanderval por ter "tercerizado" seu mandato ao ex-deputado Carlos Rodrigues (PL-RJ), ex-bispo da Igreja Universal que renunciou ao cargo no início da crise do mensalão. Em sua defesa, Wanderval alegou que não sabia do saque feito por seu assessor. Revelou que, como Rodrigues era seu líder dentro do partido e da igreja e seus funcionários tinha ordem expressa para servir ao "chefe". "O representado (Wanderval) procura eximir-se da responsabilidade, alegando que não era senhor do próprio mandato, que era um submisso, um subalterno ao então deputado Bispo Rodrigues e que tudo o que fez foi em obediência ao que ele mandava. A hierarquia e a disciplina da igreja foram transportadas para o ambiente parlamentar", escreveu Alencar, em seu voto. Ao se defender, Wanderval considerou o raciocínio de Alencar "delirante, abusivo e perverso". Ao discursar, chorou ao lembrar do pai e pediu a absolvição aos colegas. "Não vou aceitar ser vítima de um processo de inquisição", afirmou.