Título: Sabatina de Ellen para presidência do CNJ vira sessão laudatória no Senado
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sergio Leo e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A12

A sabatina da ministra Ellen Gracie para presidir o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado virou uma sessão de homenagem à ministra, que também vai presidir o Supremo Tribunal Federal (STF) a partir do mês que vem. A ministra só recebeu elogios dos parlamentares de todos os partidos e seu nome foi aprovado por unanimidade de 23 votos. A indicação foi referendada à noite pelo plenário da Casa. Ela recebeu 61 votos favoráveis, com uma abstenção e um voto contrário. O presidente do Senado acompanhou a ministra à comissão e disse que a posse dela na presidência do Supremo será um momento importante e histórico, pois é a primeira vez que uma mulher presidirá a Corte. No ímpeto de elogiar a ministra alguns senadores fizeram comentários de gosto duvidoso. O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) preferiu destacar os atributos físicos de Ellen Gracie: "Ouvi falar muito da sua competência, do seu conhecimento jurídico e sua intelectualidade, mas o meu voto ainda leva em conta a beleza e o charme. Assim voto com muito prazer", disse. O senador Magno Malta (PL-ES) disse lamentar não ter se formado em advocacia e revelou que fez três vestibulares e não passou em nenhum. Malta contou ainda que fez uma consulta ontem por telefone a 30 gaúchos residentes em Porto Alegre. Ele disse que pegou a lista telefônica e aleatoriamente telefonou para 30 pessoas: "O que tenho a dizer é que o povo gaúcho tem muito orgulho da senhora". Ao elogiar a ministra, o senador João Batista Motta (PSDB-ES) aproveitou para falar também de preconceito contra a mulher ocupar altos cargos públicos e do preconceito racial. "Desde que Pelé foi esposo de Xuxa todos têm preconceito no Brasil. Existe preconceito no Brasil", afirmou o senador. O mais estranho comentário partiu do senador Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR). Ele disse que conhece as mulheres por dois motivos: pela convivência que teve com sua mãe e também por ser médico ginecologista. "Como ginecologista, aprendi a lidar de perto com as mulheres, a entender muito profundamente a sensibilidade feminina", disse. Apesar dos elogios, alguns senadores não deixaram de falar do mal-estar na relação do Congresso e o Supremo em função de decisões da mais alta corte do país. O senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) disse ter certeza de que Ellen Gracie vai saber "diminuir as tensões que existem hoje entre os dois Poderes". No fim da cerimônia, a ministra disse ter se sentido honrada pelos elogios que recebeu, que a crise é um momento também para se buscar soluções e que os excessos serão investigados: "Os Poderes não são apenas independentes, mas cooperativos. Tentamos juntos construir um Brasil melhor. A harmonia entre os poderes é a pedra de toque". Ellen Gracie é ministra do Supremo desde 2000, sendo a primeira e até então a única mulher a integrar essa corte. É formada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pós-graduada, em nível de especialização, em Antropologia Social pela mesma instituição. (Com agências noticiosas)