Título: CPI dos Bingos convoca dirigente da Caixa
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sergio Leo e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A12

A CPI dos Bingos aprovou ontem a convocação da vice-presidente de tecnologia da Caixa Econômica Federal (CEF), Clarice Copetti, para dar explicações sobre a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. O depoimento foi marcado para terça-feria, 28 de março. A CPI decidiu ouvi-la antes do presidente da CEF, Jorge Mattoso, cuja convocação será examinada somente na próxima semana. A Caixa Econômica Federal recebeu ontem o extrato da conta do caseiro, entregue pela revista "Época", que o publicou, e encaminhou-o à comissão especial que faz sindicância sobre o caso. A CEF prometia uma nota oficial sobre o andamento das investigações, que acabou não sendo divulgada. Fontes da instituição informaram que havia um número no extrato entregue pela revista, com o qual seria possível localizar a rede de computadores em que foi quebrado o sigilo bancário, mas não identificar exatamente o responsável. " A segurança das contas é de responsabilidade dela. Ela é a pessoa certa para explicar como a conta do rapaz foi invadida " , justificou o senador José Jorge (PFL-PI), autor do requerimento de convocação da vice-presidente. O governo não teve votos para rejeitar a convocação, mas a líder do PT, Ideli Salvatti (SC), protestou contra a iniciativa da CPI de ouvir a dirigente da CEF sobre o episódio. " O episódio tem que ser investigado, mas não pela CPI. O depoimento do caseiro na CPI foi interrompido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque não tinha nada a ver com bingos. Então, os assuntos afetos ao caso também são estranhos à CPI " , disse a líder. O vazamento de informações bancárias do caseiro ocorreu dias após ele ter feito denúncias contra o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O PFL e o PSDB anunciaram, também ontem, ontem que irão tomar todas as medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis para apurar a elaboração e divulgação da chamada " Lista de Furnas " , que relacionava 156 políticos, principalmente dos dois partidos, supostamente beneficiados por um esquema de arrecadação em Furnas, nas eleições de 2002. Com base em laudo pericial da Polícia Federal, recebido pelo corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), atestando que a lista vazada é uma fraude, os líderes do PFL e do PSDB acusaram o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, de demorar na investigação dos fatos, por motivação política. " O ministro fingiu que não sabia que a lista era falsa, para deixar os políticos da oposição sangrando. Ele é uma espécie de pistoleiro intelectual do presidente Lula " , disse o tucano Arthur Virgílio. Para o pefelista José Agripino, o ministro " assumiu de forma leniente o desgaste de parlamentares " . Serão processados, segundo eles, Nilson Antônio Monteiro, que entregou a cópia da lista à PF e é apontados pelos líderes como " montador " do dossiê, e o militante petista Luiz Fernando Carceroni, que atestou a veracidade da lista. O presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), recorreu ao STF na tentativa de retomar o depoimento de Nildo, suspenso no dia 16, por liminar concedida pelo ministro Cezar Peluso. A decisão criou um clima desagradável entre a CPI e o tribunal. A oposição acusou o Supremo de interferir em questões internas do Senado. A CPI recorreu e o presidente do STF, Nelson Jobim, negou o recurso na segunda-feira por questões formais. Agora, Morais pede que o novo recurso (um mandado de segurança) seja julgado pelo plenário, composto pelos onze ministros da Corte. Para o presidente da CPI, a liminar dada por Peluso foi uma " censura judicial " das atividades desenvolvidas no Senado. Ele adverte os ministros que a liminar " expõe a grave confronto os Poderes da República " , ao esvaziar as competências das CPIs. O relator da ação é o ministro Marco Aurélio Mello.(Colaboraram Juliano Basile e Alex Ribeiro)