Título: Lula apressa apuração de quebra de sigilo
Autor: Paulo de Tarso Lyra, Sergio Leo e Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Política, p. A12

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem aos ministros que participam da equipe de Coordenação Política do governo, reunidos ontem por duas vezes, pressa para descobrir quem quebrou e quem vazou o sigilo bancário do caseiro Francenildo Santos Costa. Segundo participantes da reunião, Lula acredita que a descoberta do responsável "tira a pressão política dos ombros do governo". O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, expôs ao presidente como estão as investigações conduzidas pela Polícia Federal. Hoje, a PF vai ouvir o depoimento do caseiro que garantiu ter visto o ministro Antonio Palocci na casa de lobby do grupo de Ribeirão Preto, e a expectativa é de que o inquérito possa estar concluído na próxima semana - antes do término da auditoria interna da Caixa Econômica Federal (CEF). Operadores políticos do governo apostam na apresentação do responsável pela quebra de sigilo para tentar diminuir o estrago que o episódio Francenildo Santos Costa vem provocando. "Tudo isso faz parte de uma operação calculada. Querem nos colocar como responsáveis, nos acusam de ter colocado o aparelho de Estado para oprimir um pobre trabalhador. Nós não temos nada a ver com isso", garantiu um parlamentar da cúpula governista. Um deputado que conversou ontem com Palocci segue a mesma linha, não querendo crer que o vazamento tivesse, como pano de fundo, o desejo de ajudar o ministro. "Se for isso, merece uma taça de burrice. O Planalto não pode ser lugar para amadores", resumiu o deputado. Durante seminário sobre desenvolvimento, na manhã de ontem no Hotel Nacional, o ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, rebateu qualquer possibilidade de que a ordem do vazamento tenha partido do Planalto. "Do presidente Lula não saiu nenhuma orientação para que se quebrasse uma regra geral do Estado democrático. A investigação poderá apontar o que levou a essa quebra de sigilo, assim como na investigação se verá se a história do caseiro é consistente ou produzida a pedido de alguém", defendeu. Os ministros da coordenação política praticamente não deixaram o Planalto ontem. A crise envolvendo o ministro Palocci começou a ser discutida às 8h30. A reunião prosseguiu depois das 9 horas, desta vez com a presença de Lula. No início da tarde, enquanto Antonio Palocci e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, reuniam-se com líderes governistas em busca de acordo para votar o Orçamento, nova reunião da coordenação política, a terceira do dia. Em tempos normais, o grupo ministerial reúne-se três vezes por semana. Quando o cenário está confuso, as reuniões são diárias. A clausura de Palocci pode estar chegando ao fim. O desaparecimento do titular da Fazenda, que abandonou a agenda pública no ministério desde que a crise se agravou há uma semana, começa a incomodar até alguns aliados. "Eu acho que ele deveria retomar rapidamente suas atividades, aparecer e esclarecer tudo", defendeu um petista. Durante a reunião de terça, no Planalto, Palocci garantiu aos seus interlocutores que se surgirem eventos públicos, oficiais, ele não se omitirá. Hoje, está previsto um encontro com a missão do Fundo Monetário Internacional (FMI), chefiada pelo diretor-adjunto do Departamento do Hemisfério Ocidental, Charles Collyns. A assessoria da Fazenda confirmou que o encontro será no Planalto e não na Fazenda, como acontece rotineiramente. Aos aliados, no entanto, Palocci prometeu que aparecerá na sexta, sem citar em que circunstâncias. "Eu não estou me escondendo. Mas preciso ter a certeza do que está por trás do caseiro e da oposição", assegurou o ministro, de acordo com um dos interlocutores. Na sexta-feira o ministro almoça, em São Paulo, com empresários. O diretor do FMI minimizou ontem, ao sair de reunião com Jorge Rachid, da Receita Federal, os efeitos da crise política sobre a economia brasileira. "Vemos muita confiança nos mercados na forma como as políticas estão sendo conduzidas no país".