Título: México e Equador criticam ingerência eleitoral de Chávez
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Internacional, p. A13

América Latina Países acusam presidente venezuelano de se envolver em seus processos políticos internos

México e Equador advertiram ontem para o que chamam de ingerência externa em seus processos político-eleitorais, sugerindo que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estaria ajudando candidatos ou movimentos sociais que contestam os governos desses países. A eleição presidencial no México está marcada para julho. A do Equador, para outubro. O porta-voz da Presidência do México, Rubén Aguilar disse que o processo eleitoral no país "diz respeito somente aos mexicanos". Ele criticou Chávez depois de o venezuelano ter dito que "a direita mexicana" usa sua imagem para tentar evitar a vitória do esquerdista Andrés Manuel López Obrador. Segundo Aguilar, a Chancelaria mexicana analisa se apresentará queixa formal ao governo de Caracas. Partidos adversários de Obrador na disputa presidencial, o PRI e o PAN (do presidente Fox) debatiam ontem no Congresso mexicano a possibilidade de abrir uma investigação sobre um eventual apoio de Chávez a Obrador. As relações de Chávez e o presidente mexicano, Vicente Fox, estão especialmente tensas. Em novembro passado, durante a Cúpula das Américas, o venezuelano qualificou Fox de "filhote do império" e de "entreguista". No Equador, o porta-voz da Presidência, Enrique Proaño, insinuou que as manifestações indígenas que ocorrem no país há mais de uma semana estariam ligadas ao presidente Chávez. "Há alguma intervenção estrangeira que quer desestabilizar a democracia", disse o porta-voz. Ontem o governo decretou estado de emergência em cinco províncias para tentar conter os protestos. Proaño não acusou diretamente Chávez. Mas disse que há candidatos à Presidência que querem contar com o seu apoio financeiro e, por isso, estariam incentivando os protestos. "Parece haver uma exigência [venezuelana] para que [candidatos presidenciais] demonstrem força" antes de receberem ajuda econômica do governo Chávez, insinuou. Ele não apresentou, porém, nenhuma prova do suposto apoio de Chávez a grupos indígenas. A acusação ao líder venezuelano pode ser ainda uma manobra diversionista, para desviar a atenção interna e externa da crise entre o governo e o movimento indígena. Os líderes indígenas negam haver qualquer interferência externa. Houve muitos rumores, não comprovados, de apoio financeiro de Chávez à vitoriosa campanha eleitoral de Evo Morales na Bolívia. Além disso, a Venezuela se tornou este ano o maior comprador externo de títulos da dívida argentina, o que ajuda indiretamente o presidente Néstor Kirchner. Em discursos, ao menos, Chávez vem apoiando abertamente candidatos a presidente em outros países que tenham afinidades com sua chamada "revolução bolivariana". Depois de Morales, na Bolívia, ele defende o candidato ultranacionalista Ollanta Humala no Peru, que, como Chávez, foi militar. Fundamentadas ou não, as denúncias contra Chávez agradam aos EUA. Desde o ano passado, o governo americano vem adotando uma estratégia para encurralar o regime venezuelano. Segundo Roger Pardo-Maurer, subsecretário para o continente americano no Departamento de Defesa, a política foi desenvolvida para combater o que chama de "estratégia da hiena" (de cercar a presa) de Chávez. Chávez, segundo Washington, estaria usando o dinheiro do petróleo para introduzir seu estilo de confronto na política de outros países, disse Pardo-Maurer. "Ele está escolhendo os países com a estrutura social mais fraca. Em alguns casos é subversão pura." Ontem, a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, disse ter "esperança" em voltar a ter boas relações com a Venezuela.