Título: Estado de emergência por protesto no Equador
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Internacional, p. A13

O governo do Equador decretou estado de emergência em cinco Províncias para tentar controlar as manifestações indígenas, que já duram mais de uma semana, contra o tratado de livre comércio (TLC) que o país negocia com os EUA. O governo equatoriano sugeriu também que pode estar ocorrendo uma ingerência externa na crise, talvez inflamada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Os líderes dos protestos no Equador disseram ser absurda a acusação de ingerência estrangeira e prometeram não respeitar as medidas restritivas. Disseram ainda que podem enfrentar as forças policiais e militares enviadas para tentar impor o estado de emergência. As medidas de exceção restringem as liberdades de ir e vir e de reunião pública em regiões andinas e nas proximidades de Quito. O governo tomou a decisão após os movimentos indígenas anunciarem um levante geral para a semana que vem caso o tratado fosse assinado. O ministro do Interior, Felipe Vega, disse que a medida de exceção só foi adotada "após esgotadas as opções de diálogo". A polícia começou a liberar estradas que, em 11 das 22 Províncias equatorianas, ficaram bloqueadas pelos manifestantes por nove dias. Os bloqueios provocaram a interrupção da distribuição de gêneros alimentícios e consequentemente um aumento de preços. Em Quito, grupos de manifestantes foram dispersados com gás lacrimogêneo nos últimos dias, após tentares interromper o tráfego e ocupar edifícios públicos. Os manifestantes dizem que a assinatura do TLC com os EUA prejudicaria a agricultura das comunidades nativas e poderia até acabar com o modo de vida tradicional delas. As manifestações começaram quando as comunidades indígenas das regiões amazônicas, onde se extrai a maior parte do petróleo do país, passaram a exigir mais investimentos sociais e de infra-estrutura por parte das petroleiras. As exigências então evoluíram para a não aceitação do TLC. Tratados semelhantes foram negociados por Colômbia e Peru, os quais ainda precisam ser assinados formalmente e ratificados pelos Legislativos de cada país.