Título: Brasileiros devem R$ 672 bilhões
Autor: Pires, Luciano; Gonçalves, Marcone
Fonte: Correio Braziliense, 27/05/2010, Economia, p. 18

As taxas de juros para os consumidores registraram pequena elevação em abril, depois de dois meses em queda, passando de 41% para 41,1% ao ano. Apesar desse movimento, os brasileiros continuaram se endividando, com o saldo de empréstimos, incluindo os voltados para a casa própria, atingindo R$ 672,41 bilhões. A boa notícia foi que, no mês passado, a inadimplência caiu de 7,1% para 6,8% ao ano, o menor nível desde dezembro de 2005, quando havia sido de 6,74%. Ou seja, com mais emprego e a renda em alta, os tomadores de crédito estão conseguindo pagar as contas em dia.

Na avaliação do chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, a expectativa é de que os juros dos crediários se mantenham estáveis ou registrem pequena elevação nos próximos meses, acompanhando o aperto monetário promovido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), que aumentou a taxa básica da economia (Selic) de 8,75% para 9,50% ao ano. A tendência é de estabilidade ou de pequena elevação, disse. Com a inadimplência em queda, não há por que os bancos elevarem demais o custo dos financiamentos. Ele lembrou que o total de crédito na economia chegou a R$ 1,47 trilhão, o correspondente a 45,2% do Produto Interno Bruto (PIB).

Para o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, da Confederação Nacional do Comércio (CNC), os juros no Brasil ainda estão muito altos e tendem a subir um pouco mais ao longo do segundo semestre. Essa alta, porém, será lenta, pois os riscos do crédito no país diminuíram diante do forte crescimento da economia, afirmou. A seu ver, os consumidores devem ficar atentos para não se endividarem demais. A tendência dos brasileiros é de olhar apenas para o tamanho das prestações. Se elas couberem no orçamento, fecham negócio. Só que o acúmulo de débitos pode se tornar um problema mais à frente.

Freio de arrumação Segundo René Garcia, da Fundação Getulio Vargas (FGV), a tendência é de o BC conter um pouco da demanda por crédito, com o intuito de manter a inflação sob controle. O Brasil vem crescendo muito. A expansão deste ano pode chegar a 7% e a inflação tende a encostar nos 6%. Portanto, é natural que haja um freio no ritmo da atividade, destacou.

Pelos números divulgados ontem pelo BC, o cheque especial comandou o processo de alta dos juros, com a taxa passando de 160,3% para 161,3% ao ano. Trata-se um custo proibitivo, disse Altamir. Na ponta oposta, os juros do crédito direto ao consumidor (CDC), usado para o financiamento de bens duráveis, caíram 0,5 ponto percentual, para 49,7% anuais.