Título: Importador eleva compra de têxteis da China para escapar das cotas
Autor: Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Especial, p. A16

Relações externas Em alguns itens, volume já ultrapassa o negociado para todo ano no Brasil

Os importadores estão acelerando as compras de alguns produtos têxteis vindos da China para se antecipar à entrada em vigor do acordo que restringirá as vendas do país para o Brasil a partir de abril. Em um caso - veludos - as importações do primeiro bimestre já superaram a cota prevista para o ano. As compras de veludos chineses subiram 168% em janeiro e fevereiro em relação ao mesmo período de 2005, atingindo 687 toneladas. O percentual de crescimento é bastante superior à alta de 46% das importações totais de têxteis vindas da China na mesma comparação. O volume de veludo importado no período ultrapassa a cota de 504 toneladas acertada com os chineses para o ano. Com as empresas preparando as coleções de inverno, as importações de veludo se concentram nos primeiros meses do ano. No caso de bordados (peças, tiras ou motivos bordados a máquina que são aplicados nas roupas), as importações originárias da China chegaram a 137 toneladas no primeiro bimestre, metade da cota prevista para o ano. Em janeiro e fevereiro de 2004, o Brasil importou apenas 14 toneladas de bordados. As importações de suéteres - outro produto para o inverno - também aumentaram bastante nesse início de ano. As compras de suéteres chineses cresceram 131% em janeiro e fevereiro em relação a igual período do ano passado, para 353 toneladas, atingindo o equivalente a 30% da cota acertada para o ano. Em tecidos de seda, o volume de importações chinesas chegou a 24,1% da cota do ano. Nos demais produtos incluídos no acordo - sobretudos, tecidos sintéticos, fios de poliéster texturizado e camisas de malha - as importações crescem em um ritmo mais fraco. Os importadores utilizaram entre 10% e 20% das cotas previstas para esses produtos no primeiro bimestre. Tecidos e sintéticos e fios de poliéster respondem pelos maiores volumes de importação no acordo firmado entre China e Brasil. Os dois países selaram o entendimento de restrição das importações de têxteis chineses em fevereiro, após intensas negociações que começaram no último trimestre do ano passado. O acordo foi assinado pelo ministro brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, e por seu colega chinês da pasta de Comércio, Bo Xilai, no início de março e começa a vigorar no dia 3 de abril. Os chineses pediram um prazo de trinta dias entre a assinatura do acordo e sua vigência para se adaptar. A China fechou um acordo similar de restrição das importações de têxteis com a União Européia. Os varejistas europeus recorreram a pesadas antecipações de compra enquanto o acordo não entrava em vigor. Depois do início do controle das importações, um grande volume de mercadorias ficou parado nos portos, porque as cotas já haviam estourado. Negociadores chineses e europeus tiveram que voltar para a mesa de negociação. A interpretação de qual será o volume de cotas desse ano ainda é um ponto obscuro no acordo entre Brasil e China e pode provocar polêmica. A indústria brasileira entende que as cotas incluem as importações de todo o ano de 2006 e não apenas o que for adquirido depois de abril, quando o acordo começa a valer oficialmente. "O acordo só entra em vigor em abril, mas nós entendemos que já estava apalavrado há mais tempo", afirma o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit), Fernando Pimentel. Ele afirma que a entidade está monitorando as importações e já alertou o governo do estouro das cotas de veludo. O setor acredita que o efeito da restrição das importações pode ser nulo, dependendo da antecipação de compras que ocorrer entre janeiro e março. Procurado pelo Valor, o Ministério do Desenvolvimento preferiu não se manifestar sobre o assunto. Fontes próximas às negociações explicam que uma solução pode ser descontar os volumes excedentes de importação das cotas previstas para o ano seguinte. O acordo entre Brasil e China estabelece restrições na compras de oito grupos de produtos têxteis até 2008 e prevê pequenos aumentos nas cotas de importação a cada ano. Pimentel, da Abit, espera que as licenças prévias de importação dos produtos chineses, que serão exigidas pelo governo brasileiro a partir da implementação do acordo, controlem o fluxo de comércio e consigam impedir que as importações excedam os volumes estabelecidos.