Título: OMC critica política externa americana
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Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Especial, p. A16

O Brasil acusou ontem os Estados Unidos, para onde destina 20% de suas exportações, de provocar "perdas significativas" para produtores agrícolas, de aço, têxteis e calçados, causadas por persistentes barreiras na fronteira. O embaixador americano junto à Organização Mundial do Comércio (OMC), Peter Allgeier, defendeu as práticas do país e informou que o governo trabalha junto ao Congresso para implementar uma decisão no caso do algodão - o que significa retirar subsídios domésticos condenados por ação do Brasil. A política comercial americana começou a ser examinada ontem pelos países membros da OMC, como acontece a cada dois anos para as grandes economias. O exame vai até amanhã. O relatório da entidade aponta barreiras e subsídios que distorcem o comércio internacional e alerta que o crescente número de acordos de livre comércio promovidos pelos EUA impede progressos na Rodada Doha. Na mesma linha, o Brasil pediu para Washington dar prioridade à negociação multilateral, sem fazer referência ao Acordo de Livre Comércio das Américas (Alca). Diante dos outros 147 países-membros, o Brasil reclamou que seus 20 principais produtos de exportação são submetidos a tarifas médias de 23% nos EUA. Em comparação, os 20 principais itens exportados pelos americanos para o mundo são taxados em 11,6% no Brasil. O Brasil exemplificou que a tarifa para tabaco chega a 350% fora de cota. Outras taxas pesam sobre o açúcar (tarifa de 100%), suco de laranja (60%) e etanol (54 centavos por galão). Para bens industriais, as alíquotas variam de 58% para calçados a 37% para têxteis. Quando as alíquotas são baixas, os EUA usam anti-dumping para barrar produtos como aço. A delegação brasileira apontou "enormes prejuízos" em função dos subsídios agrícolas que tiram mercados de produtos brasileiros. Disse que nos últimos cinco anos, os produtores americanos receberam quase US$ 10 bilhões para soja, US$ 14 bilhões para algodão e US$ 20 bilhões para milho. Vários países manifestaram preocupação com o impacto de medidas de segurança sobre o comércio e investimentos nos EUA. A China advertiu que ações americanas para barrar companhias estrangeiras nos EUA, baseadas em segurança nacional, afetam a confiança dos investidores no país. O embaixador americano respondeu que os EUA compraram US$ 2 trilhões de bens e serviços ano passado de todo o mundo. E que a economia é tão aberta que o fluxo de investimentos diretos estrangeiros é de US$ 1,5 trilhão. (AM)