Título: Senador dos EUA mostra pessimismo com negociações de Doha e da Alca
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 23/03/2006, Empresas &, p. A16

O prazo de abril para que os países cheguem a um esboço de acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) está quase perdido. A avaliação é do senador republicano e presidente do Comitê de Finanças do Senado dos Estados Unidos, Charles Grassley. Esse prazo foi estabelecido em outubro na reunião ministerial de Hong Kong. Grassley, um tradicional defensor da agricultura americana, acredita que é preciso haver uma ruptura na atual posição dos países para que as negociações avancem. "E estou bastante pessimista devido à falta de progresso que vimos em Hong Kong", disse. O senador acredita que a União Européia é o ator que, atualmente, mais emperra as negociações. "São eles que têm os agricultores franceses que, aparentemente, são um problema", avaliou. Ele reclama que países não estão dando o devido crédito para a postura dos Estados Unidos, que colocaram uma uma nova oferta na mesa. O senador participou de uma reunião ontem com empresários na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Roberto Giannetti da Fonseca, diretor do departamento de Comércio Exterior da Fiesp, disse que ficou claro, mais uma vez, que falta liderança para os EUA na questão das negociações na OMC. "Parece que eles estão mais interessados nos acordos bilaterais", afirmou. Durante a reunião, o senador americano comentou que, no jogo do comércio internacional, quanto mais bolas se tem na mão, maior o poder para negociar. Grassley também não se mostrou entusiasmado com o futuro da Área de Livre Comércio da América (Alca) e criticou duramente a postura brasileira. "Quando os presidentes do Brasil e da Venezuela se reuniram há cerca de um ano e decidiram que o acordo não era bom para os países, chegou-se a um impasse. Enquanto não houver mudança nessa postura, não haverá avanço", frisou, tirando dos EUA qualquer responsabilidade sobre o andamento das negociações. E foi mais duro: "Quem daria ouvidos a uma pessoa maluca como presidente da Venezuela (Hugo Chávez)?", questionou. Grassley não acredita em prorrogação do "fast-track", a autorização que o Congresso dos EUA concede ao Executivo para as negociações de comércio. "Sou favorável à prorrogação, mas acho muito, muito difícil que ocorra". O senador ressaltou que, provavelmente, os EUA irão reduzir os subsídios agrícolas na próxima Farm Bill americana, que será elaborada em 2007, por conta dos déficits orçamentários do país.